Rowland barkley - Mestre Xamã
Convida você para voltar à casa…
Explorando as profundezas de sua própria perfeição…

By Deborah Rebolledo

Escolha
Através seu técnicas totalmente únicas de Xamanismo Holográfico, Rowland  convida você para uma jornada para casa com a finalidade de encontrar seu autêntico EU..., Explorando o mais profundo de sua mais perfeita identidade; sua divindade e humanidade simultâneas ... É você quem decide abrir a porta para iniciar suas procuras. É você quem pode tomar a decisão de transformar dramas em sonhos e, sonhos em realidade.

Sonhos
Creative ImpetusQual é o seu sonho?  Como sua vida manifesta este sonho? Existem obstáculos impeditivos para manifestar o sonho agora? Você já reivindicou seu direito inato de satisfação e manifestação? - Rowland lhes convida para viajar através do labirinto de pensamentos, emoções e de crenças que ficam de guarda na porta de sua liberdade verdadeira. Ele trabalha com técnicas sofisticadas para dispersar habilidosamente os mitos que estão criando sua realidade atual de luta e desafios.  Ele é um mestre habilitado para ajudá-lo a acessar sua perfeição inata com a finalidade de usar sua perfeição para criar sucesso em todos aspectos de sua vida.

A escolha é sua ..., você pode escolher levar esta luta mais um momento ou a escolha pode ser abandonar toda a resistência. Abandonar a resistência pode ser tão simples quanto soprar dúvidas nebulosas ou espana-las com uma única pena. Ou pode ser tão poderoso como um raio de sol oferecendo a compreensão individual.

Partes da Alma
Você já sentiu alguma vez como se estivesse indo em um milhão de direções de uma só vez e ao mesmo tempo não indo a parte alguma? Existe caos, confusão ou conflito em áreas de sua vida? Todas as partes de você são perfeitas… simplesmente elas podem não estar conversando entre si… ou  não estão falando a mesma língua.  Rowland reúne esses espíritos separados e negocia a organização vital mais adequada para seu ser. Isto resulta em harmonia e crescimento… particularmente em relacionamentos. Na medida em que caos e conflitos são desabilitados, ele convida o poder de sua perfeição para retornar.

Brilho
Rowland também reconhece a soberania de seu espírito olhando profundamente no profundo de seus olhos.  Assim ele identifica sua luz interior verdadeira. Ele convida delicada e amorosamente para retornar ao seu lugar correto  e de honra. O espírito é visto verdadeiramente e encorajado a participar de sua missão sem par.  Sua essência tem a oportunidade de finalmente brilhar. Você se sente renovado e revitalizado. Sua mente, corpo e espírito se juntam numa dança divina.

Desdobramento
À medida  que você diminui a carga de crenças que não têm serventia sua vida se desdobrará em caminhos novos e mágicos.  Sua ressonância muda… você faz novas escolhas.  Seus amigos e família notam que você está, de algum modo, diferente. Eles poderão ter dificuldade de descrever seu processo, porém terão noção dos profundos dons que estão emergindo em sua vida. Se eles estiverem curiosos, convide-os para se juntarem a você na jornada de celebrar integridade. Vocês irão criar juntos um grupo de ressonância significativamente mais alto, e uma fonte importante de suporte para a transformação de cada um.

Poder
Rowland GreatbookToda pessoa que tem coragem de viver seu propósito de vida e  seus sonhos age como catalisador para o mundo. Esse trabalho é um presente de paz e alegria para ela mesma para seus entes queridos e para o planeta.  A vida é preciosa… Faça a mudança quântica, atinja a liberdade e o poder ilimitados. Seja comprometido com seu próprio crescimento. Assuma responsabilidades por  suas escolhas. Empreenda a sua jornada agora, e dê a seu espírito permissão para voar nas alturas!!!

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Deborah Rebolledo
Curadora Holistica/Viagem Sagrada
New York City, Março de 1997

A INTEGRAÇÃO DO SER TOTAL COMO UM CAMINHO DE CURA
VÂNIA DE LARA CRELIER, Médica Psiquiatria CRM 13.455: Psicoterapeuta, Psicodramatista, Core - Energetic Terapeuta, Aura Soma e Xamã.

QUE É CURA?
No atendimento a tantos clientes durante meu trabalho médico, inúmeras vezes me deparei com essa pergunta: QUE É CURAR ?

Tentando vestir a roupa da medicina tradicional eu não conseguia receber uma resposta satisfatória. Ela divide o homem em segmentos (haja visto a multiplicidade de especialistas), o homem é cortado fragmentado e se elege um especialista para entender de cada pedaço dele e o homem como um todo não é visto e nem compreendido. O seu emocional é entregue a outro especialista: O psiquiatra que deve entender de suas emoções e mente, mas não de seu corpo e alma (que nem sequer existe para o médico tradicional.) Esta deve ser entregue à outro especialista (talvez um padre, um pastor, um pai de santo ou outro).

Na GRÉCIA ANTIGA os curadores sabiam a respeito do ser como um todo (o Ser Holístico) e nos templos de cura o cliente chegava para o atendimento e era banhado e repousava para sonhar sua cura. Através do inconsciente o SONHO DE CURA contava ao curador o que fazer. O próprio cliente ajudava sua cura e não ficava passivamente esperando o SABER DO MÉDICO. Hoje o paciente aguarda "pacientemente" que os médicos decidam o que fazer com êle e se enche de antibióticos, analgésicos, antiinflamatórios, anti-depressivos, estimulantes e tranqüilizantes.

Como Xamã, além de médica, acredito no Poder de Cura do meu cliente e o ajudo a despertar o seu curador interno. Juntos analisamos seus sonhos como um caminho que o inconsciente escolhe para nos guiar. Juntos buscamos resgatar pedaços perdidos de sua alma (resgate de alma). Buscamos através de várias técnicas a conexão de todos seus corpos: (corpo físico, corpo emocional, corpo mental, corpo espiritual), através de técnicas xamânicas, de Psycodrama e de "Core Energetics". Acredito que o caminho da cura é restaurar o caminho do coracão e que isso é impossível de ser feito sem o compromisso do ser com sua verdade maior. Uso medicina Naturalista (ervas, banhos), medicina Biológica, Aura Soma, Dietas, Alimentação Balanceada Caminhadas, Exercícios de Respiração e de Core Energetics para dissolver as couraças e bloqueios corporais que impedem a ampliação da nossa consciência e o livre fluxo das emoções. Integro na minha pratica também a Meditação.

O PODER DA MADONA NEGRA
por Carminha Levy

Este trabalho começa com um sonho. Um GRANDE SONHO que o Xamã da tribo deve contar a seu povo.

Há 10 anos, em 1981, após minha iniciação xamânica com Michael Harner em Esalen, California, passei por um sério problema de saúde ao chegar ao Brasil. Tive um acidente vascular cerebral, um aneurisma, e enfrentei a morte e o desmembramento numa real concretização da iniciação xamânica. Minha vida esteve por um fio, e quando entrei na cirurgia eu tinha apenas 1% de possibilidade de sair ilesa e 10% de sobreviver. Nessas terríveis circunstâncias eu tive o Sonho.

Em Roma, na Praça do Vaticano. Eu e meu marido estávamos em uma carruagem negra, puxada por corcéis negros (o coche da morte). Subitamente, no centro da praça eu vejo quatro leões absolutamente soltos e um deles era negro. Eu estava surpresa de ver os leões e as pessoas cruzarem livremente pela praça. Meu marido diz não haver perigo, é necessário somente que todos se respeitem. Nós estávamos indo para uma missa que uma prima minha mandou celebrar como ação de graças. A missa é celebrada pelo Papa em um anfiteatro e há muita gente em volta rezando. O Papa imediatamente se transforma em Anchieta (santo brasileiro que foi padre e poeta na época da colonização). A missa é um poema escrito na areia que havia no anfiteatro. Cada palavra que ele escrevia transformava-se em um botão de rosa sulferino. Quando ele termina, a missa-poema tem a forma de um leque e, como um truque mágico, Anchieta com uma varinha abre todas as rosas. O público que reza a missa está simplesmente maravilhado e ouve-se um "oh" de surpresa e incredibilidade. E eu digo para meu marido: "esta minha prima, sempre espetaculosa!"

Claro, eu escapei desta cirurgia sem sequelas, com o mais completo controle do meu corpo e da minha alma. Mas minha vida recomeçou como a vida de um recém-nascido, e eu precisei de alguns meses para me reabilitar. Durante todo este tempo, uma imagem não me saía da mente: o Leão Negro, nunca visto antes. Desde meu profético grande sonho que predizia minha cura, até hoje o Leão Negro vem revelando os segredos da Madona Negra, nossa grande mãe a quem ele pertence. Ele vem até mim ensinado-me através de sonhos, experiências com meus pacientes, grupos de estudos Xamânicos e minha própria experiência de cura milagrosa. Ensina-me a poderosa força de cura da Madona Negra e guia-me até Ela, pois ele é um dos seus animais sagrados.


Quem é a Madona Negra?
É a Mãe Terra, o Princípio Feminino, nossa Mãe Primordial, símbolo de Sabedoria e integração e resolução dos opostos.

Como perpetuação das poderosas deusas da antiguidade,ela volta com as características sagradas de Maria - a Virgem. Metaforicamente Virgem, mas não no sentido do Patriarcado, porque não pertence a nenhum homem e sim a todos os homens. Doadora de vida, dela provêm os homens como frutos da terra e à ela todos retornam, à Mãe Natureza, à Deusa Mãe.

Dela é o Espírito Santo - parte feminina de Deus, fogo sagrado que provem do centro da terra. Fazendo macroscópicamente o percurso do fogo serpentino da Kundalini, ele atravessa o corpo da terra, saindo transmutado no Espirito Santo.

A história da Madona Negra possui a qualidade dos mistérios profundos. Contem portanto um segredo herético que não pode ser revelado através da escrita e sim só transmitido pela tradição oral, privilégio dos iniciados. Do que pode ser revelado pela escrita, temos o registro histórico que nos remete aos cultos da Mãe Terra, da Grande Mãe - a Deusa.

"A escuridão precede a luz e ela é me" (inscriço no altar da Catedral de Salerno). A primeira sabedoria era escura e feminina, útero eterno que na tradição religiosa Africana do Candomblé é representada pelo poder ancestral feminino Iyá-mi-Osorongá (minha mãe Osorongá). Este útero eterno, matéria informe, o ventre da terra, é simbolizado pelo igbá - a cabaça que é a totalidade, o conteúdo e o continente. A cabaça contem um pássaro - Atioró, que representa simultaneamente o poder de gestação e o elemento procriado. Iyá-mi é a senhora dos filhos pássaros e é tão poderosa que seu nome não pode ser pronunciado sob pena de destruição destes mesmos filhos. A ambivalência de seu poder aparece no mito que conta que quando chegaram ao mundo as Iyá-mi-Eleyé, as mulheres pássaros fundadoras do mundo, distribuíram-se sobre sete árvores representando os sete tipos de atividades diferentes. Sobre três destas árvores elas trabalharam para o bem, sobre as outras três trabalharam para o mal, e sobre a sétima elas trabalharam tanto para o bem quanto para o mal. Nossa Grande Mãe Iyá-mi a Sustentadora do Mundo contém também em si a Mãe Terrível, mas é primordialmente um símbolo integrador, capaz de aplicar seu poder na resolução de todos os opostos.

Rainha excelsa deste poder feminino ancestral, reina ainda nos dias de hoje, principalmente no Brasil e na Africa, OXUM, a mais eminente das Iyás em um culto vivo às grandes mães. Orixá de todas as águas, rios, cascatas, córregos e inclusive do mar (em país Yorubá), Oxum é a genitora por excelência e ao mesmo tempo mãe ancestral Suprema, ligada à procriação e também patrona da gravidez. Protege os fetos e vela por eles após o parto até enquanto não tiverem armazenado um conhecimento que lhes permita falar. "A cura das crianças lhe pertence e Oxum não deve ser inimiga de ninguém" - texto Yorubá. Oxum é representada em algumas narrações como um peixe mítico, pois os peixes são considerados seus filhos. As escamas do corpo de Oxum, como peixe mítico, simbolizam estes filhos. Da mesma forma que os peixes, os pássaros a personificam. Estes são representados pelas penas. "Seu corpo de peixe ou de enorme pássaro mítico está coberto de escamas ou de penas, pedaços do corpo materno, capazes de separar-se, símbolo de fecundidade e procriação" - Juana Elbein dos Santos.

Nas religiões egípcias e gregas a alma é representada pelo pássaro que sempre acompanhou as Deusas Mães e que acompanha a Madona Negra como o Espírito Santo acompanha Maria.

As mais antigas manifestações do culto à Mãe Terra datam da Pré-história. Uma das manifestações que chegou até nós é uma pequena figura: "La Polichinelle". Ela foi trazida à luz por um trabalhador perto das cavernas de Grimaldi. Seu perfil mostra nádegas, seios e barriga bem protuberantes. A justificadamente famosa Venus de Sespugne (Pirineus, França) tem nas costas linhas verticais que lembram penas de cauda de pássaro. Em Ur encontramos outro arcaico registro de culto à Deusa Mãe, uma pequena estatueta na qual ela era representada com seu filho divino, ambos com cabeça de cobra.

Ela aparece na Suméria como a popularíssima Inanna de dupla personalidade: de manhã é uma valorosa "Senhora das Batalhas", deusa dos heróis, e de noite torna-se a deusa da fertilidade, dos prazeres do amor. Fertiliza os graõs da terra e o homem. Não pertence a um só homem, mas a vários. Suas sacerdotisas são as "prostitutas sagradas" que, tais quais as virgens que não pertencem a nenhum homem, elas também no pertencem metaforicamente a nenhum por pertencerem a todos. Têm um ventre múltiplo que é de todos os homens, pois delas é o ventre da deusa Inanna - a Mãe Terra, na qual elas se transformam. O culto a Inanna tinha no ato sexual sua prática principal porque restabelecia a androginia original através da prostituição sagrada.

Vemos a Mãe Terra ser adorada como Isthar na Babilônia e posteriormente como Ísis no Egito e como Astarte entre os hebreus. Na Frígia ela aparece como Cibele (a Diana dos 9 fogos, indicativo de fertilidade).

Como deusa grega recebe o nome de Rea, Gea ou Demeter, sempre densa, profunda, misteriosa e escura. Suas equivalentes romanas são Tellus, Ceres e Maia.

Ainda no Egito a Mãe Terra aparece como Neith, a mais velha e a mais sábia das deusas. Protetora dos mortos e da guerra, estava à frente das artes úteis. Ela é o céu noturno que se arqueia sobre a terra formando com suas maõs e pés as portas da Vida e da Morte. Andrógino primogênito é uma virgem que se fertilizava a si mesma, trazendo a vida que produzia todos os mundos.

A Mãe Terra deusa celta é Annis (ou Anu) e seu culto alcança a Europa.

Porém, onde mais se desenvolveu o culto à Mãe Terra (nossa Madona Negra) foi na cultura cretense-egéia, onde a Deusa Mãe era originariamente venerada em grutas e cujos sacerdotes eram mulheres. Ela é a Lady of the Beasts, das montanhas e dos pássaros. As serpentes e os animais do mundo inferior e os selvagens eram sagrados para ela e a pomba estava na sua coroa como o Espírito Santo está na de Maria. É a mãe animal com os seios sempre a descoberto e que, como uma cabra, porca ou vaca amamenta o menino Zeus. Como indicam as vestes de peles e as roupas das sacerdotisas sempre com os seios a descoberto, o seu culto data da Idade da Pedra. No centro do grande culto à fertilidade em Creta está o touro, o duplo machado (ou labris), o Minotauro e o labirinto.

O touro é o instrumento masculino que fecunda e ao mesmo tempo é a vítima da fecundidade, como atesta o seu sacrifício que ainda hoje encontramos nas touradas.

A deusa de Creta - Demeter dos gregos - é a senhora do mundo inferior, das profundezas da terra e da morte. Seu ventre terreno é o ventre da morte, como também é o centro da fertilidade de onde a vida emana. Entrar no Labirinto significa entrar neste ventre para encontrar a morte e de onde, tal qual o graõ de trigo, sai-se gloriosamente renascido.


AS DEUSAS-MÃES NO MUNDO CRISTÃO - A MADONA NEGRA
Com o começão da Era Cristã declina o culto das divindades de todos os Olimpos. O culto à Mãe-Terra sofre este mesmo declínio e passa a ser clandestino. Chegam até nós somente os ecos de alguns cultos como os mistérios de Eleusis no qual se cultuavam Demeter e Perséfone. Artemisia, em Éfeso, continua por um bom tempo reinando inabalável. Nem mesmo o Apóstolo Paulo conseguiu impedir seu culto. Ela era também Diana, a Hécate do mundo romano, a deusa da madeira e do ramo dourado, sendo este um traço característico dela e das Madonas Negras, que foram muitas vezes encontradas em árvores.

As três grandes deusas do Leste, Isis, Cibele e Diana dos Éfesos, que eram representadas como negras, se estabeleceram no Ocidente antes da romanização.

No mundo celta a adoração das três deusas (Deae Matres) e da deusa égua Epona floresce entre os druidas e continua sob o domínio romano.

No litoral mediterrâneo desde Antibes, Barcelona, até a região da Galícia, desenvolveu-se o culto às três deusas e hoje em dia é onde vamos encontrar a maior concentraço de Madonas Negras.

Em geral, é de consenso que as primeiras imagens da Madona Negra e seu divino filho seriam representações de Isis e Horus. Nos últimos séculos do domínio de Roma, o Ocidente acolhia Isis e Cibele ( que chegou a ser no século III a deidade máxima de Lyon, capital das 3 Gálias) como grandes deusas universais. Em Paris, por esta época reinava Isis, até ser substituida cristmente por Santa Genoveva, sua atual patrona.

Os merogínios adoravam a Cibele como a Diana dos Nove Fogos (da fertilidade). Em 679, Dagoberto II o Santo Merogínio, estabeleceu o culto a "Aquela que hoje recebe o nome de Nossa Senhora e que é a nossa Isis Eterna". Seu nome como Madona Negra era Nossa Senhora da Luz.

Até o século IV percebe-se uma religiosidade baseada na Grande Mãe Universal e suas características suaves de amor, perdão e acolhimento. A igreja cristã, estabelecida a partir de Constantino, porém, privilegia e exige de seus seguidores uma fé cega que enfatiza a masculinidade desafiante e rígida dos seus mártires. As qualidades sublimes e sutís do feminino são renegadas e um período de obscurantismo e clandestinidade se abate sobre o culto das matriarcas Deusas, doadoras de vida, prazer e felicidade. O Patriarcado passa a exercer sua face mórbida e cruel.

O princípio feminino esboça um movimento emergente no Renascimento Gótico. Na França surge no século XII uma ordem religiosa e de cavalaria cercada de mistérios: a Ordem do Prioato de Nossa Senhora do Sion, que interessa-se apaixonadamente pelo culto às Deusas Mães, agora já na figura cristianizada da Madona Negra. A mais importante contribuição histórica do Priorato foi um notável antecedente em batalhar pela igualdade de direitos da mulher.

Porém as Madonas Negras só tornam-se fortemente presentes a partir dos Cruzados. Especialmente os templários que traziam para suas pátrias estatuetas de virgens negras, que eram tidas como exóticas representações pagãs. A grande festa dos Templários era Pentecostes, dia do Espírito Santo, e como vimos, a Pomba pertence à Mãe Terra como o Espírito Santo pertence a Maria.

Pentecostes era também a grande festa Arturiana do Graal, objeto de busca sagrada que aparece por esta época.

Os Templários passaram à história como os guardiões do Graal. O Santo Graal protegia a terra, a nutria e concedia-lhe fertilidade, poderes similares aos da Mãe Terra e da Madona Negra.

O princípio feminino se revela no Graal, como também o culto à corte do Amor praticado pelos Trovadores através da inteira dedicação à Dama.

O século XIV entretanto marca o fim desse reflorescimento do feminino, com as primeiras fogueiras acesas pela Inquisição, que arderam 500 anos. Esta grande fogueira queima e difama os Templários e encabeça a "caça às bruxas", numa tentativa de eliminar o princípio feminino de prazer, liberdade e bonança da Mãe Terra.

As piras das bruxas só se extinguiram na Era da Razão. Apesar de aparentmente não corresponderem ao ideal da Era da Razão, as pequenas Madonas Negras aparecem como um símbolo de uma Força Formidável, mais antiga e poderosa do que a de um Rei ou Papa.

Elas são uma fonte de vida elementar e incontrolável como a Liberdade. Possuidoras de um espírito e sabedoria própria, não se submetiam a nenhuma organizaço ou lei nacionalista. A volta da parte feminina de Deus levanta o entusiasmo popular e a humanidade experiência diretamente o sagrado pelas aparições da Virgem de Lourdes e La Salete no século XIX, entre outras.

Paralelamente a estes fenômenos religiosos da aparição da Virgem (no século XX Fátima), surge um fenômeno sociológico que assombrou o mundo. A revoluço sexual, a emancipação das mulheres por meio da igualdade de direitos e deveres e o controle da natalidade. Vimos que no culto de Inanna, a prostituição sagrada era o ato que restabelecia a androginia original. Este culto volta no século XII trazendo Madalena como a "prostituta arrependida". Posteriormente, ela é Santa Maria a Egípcia e são veneradas como Madonas Negras. Esta necessidade de conciliar sexualidade e religião, como nos primórdios do culto à Deusa Mãe Terra, podemos hipotetizar que torna-se o maior legado das Madonas Negras e lhes outorga o poder de integrar opostos. O seu regresso ao primeiro plano da consciência coletiva vem assegurar a queda da rigidez patriarcal.

Olhando com tolerância a busca do prazer pela vida, da alegria e do cultivo das sutís qualidades femininas, burla as hipócritas leis masculinas. Politicamente está a favor da Liberdade dos povos e de sua dignidade. Sua função mais importante é poder juntar a Justiça com a Misericórdia, qualidades pelas quais as Madonas Negras são veneradas pela humanidade.

Tal e qual o Espírito Santo, a parte feminina de Deus é a consoladora dos Aflitos e aparece misteriosamente onde há mais sofrimento do povo e necessidade de amparo, como atestam estas aparições:

Destinada a ser a patrona de seu povo, aparece no século XI Nossa Senhora da Floresta Negra, onde hoje há a Abadia Einsiedeln.

Nossa Senhora Subterrânea surge também por esta época em um antigo recinto sagrado dos druidas, em Chartres.

A Madona Negra de Montserrat foi descoberta entre pedras, por pastores em Barcelona, e a Madona Negra de Prates, dos Pirineus, é descoberta como Artemis em uma árvore.

A Senhora de Guadalupe, a Madona Negra de todas as Espanhas, inclusive do México, é encontrada por um vaqueiro depois de ter passado 600 anos enterrada em um ataúde de ferro.

A Virgem de Copacabana, patrona da Bolívia, é encontrada por pescadores, após serem eles salvos milagrosamente de uma tormenta no lago Titicaca.

No Brasil, em 1717 um pescador acha no rio Paraíba em São Paulo, a Madona Negra Nossa Senhora Aparecida, padroeira de todo o Brasil e venerada hoje na cidade que leva seu nome. É uma pequena e esplendorosa figura feminina preta que se apoia numa lua crescente. Conta a lenda que, ao ser descoberta, esta pequenina estátua torna-se extremamente pesada, impedindo que o pescador a levasse daquele lugar onde foi feita inicialmente uma pequena guarita para ela. Hoje lá existe uma cidade-santuário com basílicas, inúmeras igrejas e toda uma infra-estrutura de uma cidade que já acolheu o Papa e acolhe o ano inteiro peregrinos de todo o Brasil, numa grande, alegre e colorida festa religiosa.

E, na tradição Afro-brasileira, a Madona Negra é nossa orixá Oxum, Grande Mãe, patrona da gestação e dos bebês, dos Rios e dos Mares, do Ouro, do Mel e do Riso, da Beleza, da Sedução, da Astúcia e Sabedoria, nossa Me Ancestral Suprema: Iyamí-Akokó.


O Séquito da Madona Negra

O leão negro e os dons do Espírito Santo
A luz do interior da Terra, brilhante e condensada, é tão negra quanto um buraco negro. Esta é a luz do Espírito Santo.

Os animais sagrados negros, como o leão negro que anunciou a minha cura e guiou-me neste trabalho, vem deste condensado de energia do interior da Terra e pertencem ao séquito da Madona Negra. Porque eles retêm esta luz concentrada, possuem o único, extraordinário poder de lutar contra as forças negras da Magia Negra. Estes animais que têm o dom do Espírito Santo de destruir magia negra são as sagradas contra-partes do negro.

Tudo no universo tem duas partes: uma positiva e uma negativa. O negro dos animais sagrados é a contra-parte positiva do negro. Portanto, os animais negros sagrados possuem a qualidade energética que lhes outorga o direito de trabalhar com a força da magia branca, porém dentro da vibração da Magia Negra, podendo assim alcançá-la e destruí-la.

Há um sinal de magia negra quando sérias e repetitivas doenças não podem ser curadas normalmente. E em muitos casos isso é ocasionado por magia negra de vidas passadas que devem ser removidas através de energia xamânica.

Para que o xamã trabalhe com a força dos animais sagrados negros oriunda da Divina Força da Madona Negra, é necessário que ocorra um desenvolvimento psico-espiritual. Isso aparece ao xamã como um animal dourado (como por exemplo a Corça dourada de Artemis ou o Velocino de Ouro) ou como um animal alado que aparece com asas como um leão alado ou um cavalo alado como Pégaso. Isto indica que nosso Ego está suficientemente desenvolvido para vibrar na mesma faixa de tão poderosas forças e implica em um alto grau de desenvolvimento espiritual xamânico, adquirido através de muitas vidas passadas vividas como xamã.

Para trabalhar com a força da Madona Negra é condição indispensável que quatro poderes sejam harmonizados:

Um Animal de Poder que todo xamã possui.
  • um Animal sagrado negro - que normalmente não é negro, como o leão.
  • um Animal dourado.
  • um Animal alado.

Algumas pessoas possuem outras "ferramentas" xamânicas como por exemplo um Caduceu de Hermes de esmeralda - símbolo da medicina, ou outro específico símbolo próprio, muito pessoal, que será usado neste trabalho com a Madona Negra.

Ao cultuar a Madona Negra estamos recebendo os dons do Espírito Santo que, convém lembrar, são Clarividência, Poliglotismo, Clauridiência, Ensinamentos inspirados e Expulsão de espíritos malignos (magia negra), entre outros. E com estes dons a Madona Negra, desde a deusa Inanna até a Virgem Santíssima, chega até nós como o símbolo da integração e resolução dos opostos.

E isto nos ensina que o segredo da Madona Negra e seu Poder é a transmutação de nossa lua interna (alma) em nosso sol interno (espírito), numa eterna Alquimia.


BIBLIOGRAFIA

  • The Cult of the Black Virgin, Ean Begg, Oxon, England, 1985
  • História da Origem da Consciência, Erich Neumann, Munique, 1968
  • At the Table of the Grail, John Matthews, Penguin Books Ltd., 1987
  • Terra Crist, Ken Carey, Kenneth X Carey, 1985
  • Lady of the Beasts, Buffie Johnson, Harper & Row, San Francisco
  • The Fire of Creation, J. J. Van der Leenw
  • Os Nagô e a Morte, Juana Elbein dos Santos, Tese de Doutorado da Universidade de Sorbonne, Vozes, 1977

    SOBRE A AUTORA
    Pedagoga, psicóloga clínica com especialização em Jung (PUCSP), arte terapeuta transpessoal (Stanislav Grof -Esalen CA), psicodramatista, Xamã.

Iniciada no Xamanismo em 1981 por Michael Harner (Esalen), funda posteriormente a sua própria escola de xamanismo, a Paz Géia - Instituto de Pesquisa Xamânica, cuja estrutura pedagógica é a integração entre psicologia, antropologia e a sagrada sabedoria do Xamã.

Pertence a The Foundation of Shamanic Studies e a Sociedade Friends of Esalen USA.

É membro didata da Universidade da Paz (UNIPAZ ), em Brasilia, onde ministra as Jornadas Xamânicas na Formação Holistica de Base.

Dedica-se a difusão do Xamanismo desde 1981, através de participação em Congressos Nacionais e Internacionais, palestras, Workshops e Jornadas Xamânicas em todo Brasil e no Exterior (Flórida, Oregon, Bahamas).


Candomblé e os Tipos Psicológicos
por Carminha Levy

Exu Bara
Exu Bara
Exu Baraô

Para nomes grafados em maíusculo, vide Glossário.

EXU, o Mercúrio africano, o intermediário necessário entre o homem e o sobrenatural, o intérprete da linguagem dos mortais e dos ORIXÁS. É pois o encarregado de levar aos deuses da África o-chamado de seus filhos éstrangeiros. E nestas notas introdutörias, ele e chamado a levar aos filhos estrangeiros amostragem das infinitas possibilidades este rico Panteão, que se mantém vivo na África, no Brasil e em outros países do Novo Mundo.

0 CANDOMBLÉ à uma estrutura de culto às forças da natureza, à um hino à vida como Eterno Movimento, que se manifesta nas danças, nas cores dos ORIXÁS, nos elimentos sacramentais. Ritual comunitário de cantos, danças e alimentos sagrados na sua forma pública, o Candomblé é sacra mentado pelo Pai ou Mãe de Santo, pelos Filhos de Santo, pélos tocadores de atabaque (OGAN), que entoam os cantos sagra dos possibilitando a vinda do ORIXÁ, com a participação da comunidade dos mais velhos às criancinhas. Todos cantam e saúdam os ORIXÁS, executam a dança sagrada, num hino à Alegria, Amor e Partilha.

Os ORIXÁS - deuses IORUBÁS na África e no Novo Mundo - seriam ancestrais míticos encantados e metamorfoseados nas forças da natureza. Cada Indivíduo tem um ORIXÁ principal que é o "donodda cabeça", e outros três que exigem cultuacão e que também oferecem proteção. A tradição afirma que cada ser humano, no momento em que é criado, escolhe livremente sua cabeça (ORI) e seu destino (ODU). Cada pessoa tem uma origem divina, que a liga a uma divindade específica. Esta parte divina à situada dentro da cabeça. A substâncla de origem divina (IPORI) torna manifesta a filiação a um deus especifico - o ELEDÁ, por Isso chamado o dono da cabeça. Conhecer seu ELEDÁ possibilita ao homem ser artifíce de seu próprio destino, cumprindo as obrigações ou In terdições que seu ORIXÁ determina. Saber manipular tais influências equivale ao conhecimento do horóscopo natal com as melhoras de vida, que se pode obter sabendo ouvir os astros. 0 "dono da cabeça" (ELEDÁ) determina o tipo psicológico de seu filho e responde, também, por suas características físicas e seu destino. Tradicionalmente, sabe-se qual o ORIXÁ da cabeça, pela leitura de búzios -forma divinatória na qual se lê o ODU. Para isso, usa-se búzio africano(CAURI ) previamente preparado para esse fim. Voltaremos, apös uma visão geral da estrutura do CANDOMBLË aos ORIXÄS e tipos psicolögicos.

O CANDOMBLÉ expressa-se nos terreiros ou roças, onde se cultuam os ORIXÁS e os ancestrais ilustres. 0 terreiro contém dois espaços, com características e funções diferentes: (a) um espaço urbano, construido, onde se dá a dança; (b) um espaço virgem (árvores e uma fonte, equivalentes à floresta africana), que é considerado sagrado.

0 chefe supremo do terreiro é o BABALORIXIÁ ou IYALORIXÁ (pai ou mãe que possuem o ORIXÁ). Eles são detentores de um poder sobrenatural - o AXÉ, a força propulsora de todo Universo. 0 AXÉ impulsiona a prática sagrada que, por sua vez, realimenta o AXÉ, pondo todo sistema em movimento. 0 AXÉ sendo principio e força é neutro. Transmite-se, aplíca-se e combina-se aos elementos naturais, que contám e expressam o AXÉ do terreiro, que pode ser: (a) o AXÉ de cada ORIXÁ, realimentado através das oferendas e da açio ritual; (b) o AXÉ de cada membro do terreiro, somado ao do seu ORIXÁ, recebido na iniciação, mais o AXÉ do seu destino individual (ODU) e o herdado dos próprios ancestrais; (c) o AXÉ dos antepassados ilustres.

0 AXÉ como força pode diminuir ou aumentar dependendo da prática iItúrgica e rigorosa observância dos deveres e obrigações. A força do AXÉ é contida e transmítída através de elementos representativos do reino vegetal, animal e mineral (oferendas) e podem ser agrupados em três categorias: (a) sangue vermelho do reino animal (sangue), vegetal (azeite de dendâ) e mineral (cobre); (,b) sangue branco do reino animal (sêmem, a saliva), vegetal (seiva), mineral (giz); (c) sangue preto do reino animal (cinzas de animais), vegetal (sumo escuro de certos vegetais) e mineral (carvão, ferro). Estes trás tipos de sangue, por onde veicula o AXÉ, com sua coloração, vai determinar a fundamental importância da cor no culto. Resumindo: o AXÉ é, portanto, um poder que se recebe, partílha-se e distribuí-se através da prática ritual, da experiência mística e iníciátIca, conceitos e elementos simbólicos servindo de veículo. É a força do AXÉ que permite que o ORIXÁ venha e realize-se.

A existência transcorre em dois planos: o AIYE (mundo, habitação do homem) e o ORUN (além, habitação dos ORIXÁS, mundo paralelo ao mundo real, que coexiste com todos os conteúdos deste). Cada indivíduo, árvore, animal, cidade, etc, possui um duplo espiritual e abstrato no ORUN. Os mitos revelam que em épocas remotas, o AIYÉ e o ORUN esta vam ligados, e os homens podiam ir e vir livremente de um local a outro. Houve, porém, a

violação de uma interdição e a consequente separação e o desdobramento da existência. Um mito da criação nos conta que nos primórdíos, nada existia a lám do ar. Quando OLORUN começou a respirar, uma parte do ar transformou-se em massa de água, originando ORIXALÁ - o grande ORIXÄ FUNFUN do branco. 0 ar e as águas moveram-se conjuntamente e uma parte deles transformou-se em bolha ou monticulo uma matéria dotada de forma - um rochedo avermelhado e lamacento. OLORUN soprou vida sobre ele e com seu hálito deu a vida a EXU, o primeiro nascido, o procriado, o primogénito do Universo.

OLORUN abrange todo espaço e detém três poderes que regulam e mantém ativos a existência e o Uníverso: IWÁ, que permite a Uníverso genérica o ar, a respiração; AXÉ, que permite a exístência advir dinâmica; ABÁ, que outorga propósito e dá direção. Ou como diz o poeta Moraes Moreíra em "Pensamento Iorubá."

Para tudo ser tem que ter IWA

Para vir a ser tem que ter AXÉ

Para o sempre ser tem que ter ABÁ

Ao combinar esses três poderes de forma específica, OLORUN transmite-os aos IRUNMALÉ, entidades divinas que remontamaos primórdios de universo, encarregados de mantê-las nas diferentes esferas de seu domínio. Os IRUNMALÉ seriam em número de seiscentos, quatrocentos da direita (os ORIXÁS, detentores dos poderes maseulinos) e duzentos da esquerda (os EBORAS, detentores dos poderes femininos. os ORIXÁS aio massas de movimentos lentos, serenos, de idade imemorial. Estio dotados de um grande equilíbrio que controlam as relações do que nasce, do que morre, do que à dado, do que deve ser resolvido. São associados i Justiça e ao equilíbrio, principio regulador dos fenômenos cómicos, sociais e individuais.

Vimos que quando OLORUN começou a respirar, gerou ORIXALÁ e EXU, o procriado. Na qualidade de procriado, EXU não pode ser isolado nem classificado em qualcher categoria. Minha homenagem ao meu BARA ! Nestes escritos sobre os ORIXÁS, EXU com seu perfil psicológico e o tipo determinante dos seus filhos, abrirão os caminhos sendo o primeiro a ser evocado.

EXU

EXU é o pré-existente à ordem do mundo. Como a própria vida, ele se transforma sem parar, mas não uniformemente, porque EXU muda o jogo a seu bel prazer - é um "tríckster". É astucioso, vaidoso, inteligente e ambíguo- a tal ponto que os primeiros missionários assustados com pararam-no ao diabo, dele fazendo símbolo de tudo que é maldade. Mas EXU, por ser o próprio dinamismo, é quem faz, com seus paradoxos, as coisas manterem-se vivas. É ele que propicia estar o AXE sempre circulando e, ao ser tratado com consideração (oferendas), reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e

prestativo. EXU revela-se o mais humano dos ORIXÁS, nem completamente mau, nem completamente bom. Por estar relacionado com os ancestrais, ele é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. Cada pessoa tem o seu BARA - até cada ORIXÁ tem seu EXU. Ele está em tudo e com tu do, pois à o intermediário eterno entre os homens e os deuses. É por isso que em todas as cerimónias do CANDOMBLÉ, sua oferenda é a primeira e chama-se PADÉ - que significa re-u nião. No PADÉ, EXU é chamado, saudado, cumprimentado e enviado ao alem, com dupla intenção: convocar os outros ORIXÁS para a festa e ao mesmo tempo afasta-lo, para que não perturbe a boa ordem da cerimônia, com seus golpes de "tríckster". Como transportador das oferendas, ele é OXETUÁ, filho de OXUM com os dezesseis ODU do oráculo (Jogo de buzios) (CAURI) Este aspecto benfazejo de EXU outorga-lhe o poder de restituir a fecundidade ao mundo. Como senhor do poder da transformaço, ele é EXU ELEGBARA, que foi cortado em pedaços e em seguida se regenerou e, ao fazê-lo, reuniu simbolicamente o Universo inteiro.

EXU mantém o equilíbrio das trocas, provoca o conflito para promover a síntese. Tudo que se une, multiplica-se, separa-se, transforma-se - tudo é EXU, personifícação do principio da transformação. Seu dia é segunda-feira. Ele está associado ao nascente e ao futuro e sua cor é o azul-escuro arroxeado, cor do místério da procríação. Seu animal e o cão; o cacto e o mandacaru são suas plantas. Rege o sexo e usa um chapéu que se assemelha ao falo: não há sexualidade sem EXU.

OKOTÓ é o caracol, símbolo de EXU, e representa a espiral da evolução. Quando se manifesta, é saudado por um de seus nomes (LAROYE). Veste-se de branco, azul e vermelho, leva na mão um tridente ou um ferro de sete pontas ou ainda uma lança.

0 tipo psicológico do filho de EXU tem as seguintes características: é robusto, ágil, dinâmico, incansavel, transborda vitalidade. Ë grande amigo dos prazeres da vida, guloso, estä sempre com fome e bebe bastante. E por isso que ninguém do CANDOMBLË deve beber nada sem antes jogar no chão da porta da rua, bebida para EXU. Alegre, brincalhão, gosta de pregar peças, esconder objetos, contarmentiras, ensinar o caminho errado. Adora chocar, dizer palavroes. E desordeiro e adora tumultuar festas e reuniões. Quandolhe convem, pode ser extremamente trabalhador, eficiente, incansável e obstinado - tendo em vista sempre o que com isso irá ganhar. Mas e totalmente imprevisível, podendo deixar o trabalho em que se empenha apenas por capricho. Não é, entretanto, Insensível. É prestativo e não recusa sua ajuda aos amigos. É chamado sempre para resolver problemas financeiros, brigas, encrencas amorosas, as quais com habilidade e bom humor consegue dar uma solução feliz. Mas a principal característica dos filhos de EXU e a exarcebação da sexualidade; suas vidas são regidas por intensa atividade sexual, e fidelidade sexual e algo impossível de obter-se dos filhos de EXU.

OXALÁ

Obedecendo a sequência hierárquica, encontramos à frente dos ORIXÁS FUNFUN do branco, OXALÁ.

OXALÁ é o detentor do poder genitor masculino. Todas suas representações incluem o branco. E um elemento fundamental dos primórdios, massa de ar e massa de água, a protoforma e a formação de todo tipo de criaturas no AIYE e no ORUN. Ao incorporar-se, assume duas formas: OXAGUIÃ jovem guerreiro, e OXALUFÃ, velho apoiado num bastão de prata (APAXORÓ). OXALÁ é alheio a toda violência, disputas, brigas, gosta de ordem, da limpeza, da purêza. Sua cor é o branco e o seu dia é a sexta-feira. Seus filhos devem vestir branco neste dia. Pertencem a OXALÁ os metais e outras substâncias brancas.

0 tipo psicológico do filho de OXALÁ é benevolente e paternal, é sábia, calmo, paciente e tolerante. É lento, frio, fechado. Obstinado, age em silêncio. 0 tipo físico de OXALUFÃ é frágil, delicado, friorento, sujeito-a resfriados. Compensa sua debilidade física com grande força moral, e seu alvo à realizar a condição humana no que tem de mais nobre. É fiel no amor e na amizade. 0 tipo OXAGUIÃ é um jovem guerreiro combativo. É habitualmente alto e robusto, mas não é agressivo nem brutal. Não despreza o sexo e cultiva o amor livre. É alegre, gosta profundamente da vida, é falador e brincalhão. Ao mesmo tempo e idealista, defendendo os injustiçados, os fracos e os oprimidos. Orgulhoso, sedento de feitos gloriosos à, às vezes, uma especie de D. Quixote. Seus pensamentos originais geralmente antecipam o de sua época Ele à o nascente e OXALUFÃ o poente.

ODUDUWA

ODUDUWA, também considerado entidade FUNFUN, recebeu de OLORUN o elemento terra, com o qual ela criou o AIYÉ. sua cor é preta (azul escuro),por ser representante do AIYÉ. OXALÁ e ODUDUWA são cultuados no mesmo dia (sexta-feira) e em alguns terreiros, os dois conceitos são confundidos.

0 tipo psicológico do filho de ODUDUWA, do ponto de vista físico, à semelhante ao tipo OXALÁ. São magros, franzinos, nervosos e secos como a terra. Mas ao contrário do tipo OXALÁ, os filhos de ODUDUWA são violentos e agresssivos, fechados, inseguros e angustiados, tornando-se às vezes susceptíveis, impacientes, intolerantes e desconfiados. Invejosos, vingativos, perseguem aqueles cuja felicidade ou exito é para eles uma afronta. Sabem manipular os outros e toda sua força está em uma Inteligência curiosa, de senso critico e de ironia ferina. É dominador, autoritário e no trabalho é exigente, perfeccionista e minucioso.

NANÃ

NANÃ, divindade dos primórdios da criação, à associado a lama, água e à morte: recebe no seu seio os mortos, tornando possível o renascimento. 0 fato dela ser um continente, associado com processo e interioridade, conecta com o preto, que se expressa no azul-escuro. Por ser força genitora, pertence ao branco. Suas cores são, portanto, a azul e a branca. Seu animal é a rã e o seu dia à a terça-feira.

ORIXÁ da Justiça, NANÃ não tolera traíção, indiscrição, nem roubo. Por ser ORIXÁ muito discreto e gostar de se esconder, suas filhas podem ter um caráter completamente diferente do dela. Por exemplo, ninguém desconfiarã que uma dengosa e vaidosa aparente filha de OXUM seria uma filha de NANÃ "escondida".

0 tipo psicológíco dos filhos de NANÃ à introvertido e calmo. Seu temperamento é severo e austero. Rabugento, é mais temido do que amado. Pouco feminina, não tem maiores atrativos e à muito afastada da sexualidade. Por medo de amar e de ser abandonada e sofrer, ela dedica sua vida ao trabalho, à vocação, à ambição social.

OMULU

OMULU, o Rei da Terra, é filho de NANÃ, mas foi criado por IEMANJA que o acolheu quando a mãe rejeitou-o por ser manco, feio e coberto de feridas. É uma divindade da terra dura, seda e quente. Ctoniano, é às vezes chamado "o velho", com todo o prestígio e poder que a idade representa no CANDOMBLÉ. Está ligado ao Sol, propicia colheitas e ambivalentemente detém a doença e a cura. Com seu SASSARÁ, cetro ritual de palha da Costa, ele expulsa a peste e o mal. Mas a doença pode ser também a marca doseleitos, pelos quais OMULU quer ser servido. Quem teve varíola é frequentemente consagrado a OMULU, que é chamado "médido dos pobres". Suas cores são o vermelho e o preto e ele usa urna "filha" de palha da Costa (África) que o cobre da cabeça a cintura. Suas relações com os ORIXÁS são marcadas pelas brigas com XANGÔ e OGUN e pelo abandono que os ORIXÁS femininos legaram-lhe. Rejeitado primeiramente pela mãe, segue sendo abandonado por OXUM, por quem se apaixonou, que, juntamente com IANSÃ, troca-o por XANGÔ. Finalmente OBÁ, com quem se cásou, foi roubada por XANGÔ. É um ORIXÃ solitário, das ruas, como EXU. Seu dia e segunda-feira, quando se lhe oferece pipocas. Seu animal é o caranguejo.

0 tipo psicológico dos filhos de OMULU é atarrancado, fechado, desajeitado, rústico, desprovido de elegância ou de charme. Pode ser um doente marcado pela varíola ou por alguma doença de pele e à frequentemente hipocondriaco. Tem considerável força de resistência e e capaz de prolongados esforços. Geralmente é um pessimista, com tendências auto-destrutivas que o prejudicam na vida. Amargo, melancólico, torna-se solitário. Mas quando tem seus objetivos determinados, é combativo e obstinado em alcançar suas metas. Quando desiludido, reprime suas ambições, adotando uma vida de humildade, de pobreza voluntária, de mortificação. E lento, porém perseverante. Firme como uma rocha. Falta-lhe espontaniedade e capacidade de adaptação, e por isso não aceita mudanças. É vingativo, cruel e impiedoso quando ofendido ou humilhado.

Essencialmente viril, por ser ORIXÁ fundamentalmente masculino, falta-lhe um toque de sedução e sobra apenas um brutal solteirão. Fenômeno semelhante parece ocorrer no caso de NANÃ: quanto mais poderosa e mais acentuada é a femenilidade, mais perIgosa ela se torna e, paradoxalmente, perde a sedução.

OXUMARÉ

OXUMARÉ, filho mais novo e preferido de NANÃ, irmão de OMULU. É uma entidade branca muito antiga, particípou da criação do Mundo enrolando-se ao redor da terra, reunindo a matéria e dando forma ao Mundo. Sustenta o Universo, controla e põe os astros e o oceano em movimento. Rastejando pelo Mundo, desenhou seus vales e rios. É a grande cobra que morde a cauda, representando a continuidade do movimento e do ciclo vital. A cobra é dele e à por isso que no CANDOMBLÉ não se lha mata. Sua essência e o movimento, a fertilidade, a continuidade da vida. A comunicação entre o céu e a terra é garantida por OXUMARÉ. Leva a água dos mares, para o céu, para que a chuva possa formar-se - é o arco-iris, a grande cobra colorida. Assegura comunicação entre o mundo sobrenatural, os antepassados e oshomens e por isso à associa do ao cordão umbilical. Sua cor é o verde alface e todas as combinações do arco-íris.

Seu dia é terça-feira e a oferenda predileta é tatu, galo e frutas frescas. É bi-sexual e com aspecto femino, dança com o ADÉ (coroa das rainhas). É homem durante seis meses, mulher outros seis meses. É dono das riquezas escondidas na floresta, nas entranhas da terra e no fundo do mar, onde reside debaixo do oceano: pedras preciosas, ouro, coral pertence-lhe.

0 tipo psicológico dos filhos de OXUMARÉ é aristocrático. Fisicamente é esbelto, seus traços são finos. É dinâmico, inteligente, dotado de espírito curioso e destaca-se pela ironia. Gosta de fofoca e por ser intrigante, atrai, seduz e diverte. É frequentemente esnobe e gosta de exibir-se, chegando a ser excêntrico e extravagante. Quando rico, é protetor dos jovens de talento. É homosexual ou bisexual. Não à bruto nem grosseiro, é refinado e civilizado, mas pode ser perigoso pela maledicência. Possui uma grande intuição e pode ser advinho esperto.

YEMANJÁ

YEMANJÁ é considerada mãe de todos os demais ORIXÁS OGUM, XANGÔ, OBÁ, OXOSSI e OXUM que nasceram de caso ilícito que teve com IFÁ. NANÃ Como vimos, é mãe de OMULU e OXUMARÉ. YEMANJÁ, por sua vez, filha de OLODKUN, ORIXÁ masculino em BENIN, ou femínino em IFÉ, sempre do mar. No Brasil, é muito venerada, e seu culto tornou-se quase independente do CANDOMBLÉ. É representanda como uma sereia de longos cabelos pretos. Rege a maternidade, e a mãe dos peixes que representam fecundidade. Seu dia à sábado. Nas grandes "obrigações", são oferecidos cabra branca, pata ou galínha branca. Gosta muito de flores e é costume oferecer-lhe 4 seterosas brancas abertas, que são jogadas ao mar para agradecimento. Sua cor à a branca com azul. Usa um ADÉ com franjas de missangas que esconde o rosto. Leva na mão o BÉBÊ -- leque ritual de metal prateado de forma circular, com uma sereia recortada no centro.

0 tipo psicológico dos filhos de YEMANJÁ é imponente, magestoso e belo, calmo, sensual, fecundo e cheio de dignidade e dotado de irresistivel fascínio (o canto da sereia). As filhas de YEMANJÁ são boas donas de casa, educadoras pródigas e generosas, criando até os filhos de outros (OMULU). Não perdoam facilmente, quando ofendidas. São possessivas e muito ciumentas. YEMANJÁ, por presidir a formaçio da individualidade, que como sabemos está na cabeça, está presente em todos os rituais, especialmente o BORI.

OGUM

OUGUM à o primeiro filho de YEMANJÁ, a quem sempre acompanhava, sendo também muito afeiçoado a EXU e seu irmão OXOSSI, ORIXÁ da caça - a quem ele deu suas armas. Foi casado com IANSÃ que o abandonou para seguir XANGÔ. Casou-se também com OXUM, mas vive só, batalhando pelas estradas é o abre-caminhos. Ele é o ORIXÁ do ferro; foi o primeiro ferreiro. É o ORIXÁ da civilização e da técnica. Introduziu a agricultura e, como oferenda, recebe inhame e feljio, os frutos da terra. É o ORIXÁ dos maquinistas, motoristas, ferroviários, operários e de todos aqueles que trabalham com máquinas e ferramentas. É o ORIXÁ da virilidade; remove obstáculos, civiliza o mundo, prove alimentos.

Seu dia é a terça-feira. E nas grandes "obrigações", pode pedir um boi ou um bode. Sua cor é o vermelho, mas gosta também de azul e verde forte. Seu animal o cachorro. É agressivo e brutal e à tido como responsável pelos acidentes de carro, avião e mecânícos em geral, com os quais castiga quem o desrespeitou. Seus filhos devem abster-se de beber cachaça e de andar armado com faca e facão. Por ser sua possessão muito violenta, pode deixar quem o recebe completamente inconsciente e sem controle de seus atos.

Os filhos de OGUM são briguentos, violentos, impulsivos e não perdoam e não perdoam as ofensas que foram vítimas. Perseguem energicamente seus objetivos e em momentos difíceis, triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda esperança. Possui humor mutável, indo dos furiosos acessos de raiva a um tranqulo compportamento. São impetuosos e arrogantes, não se incomodando de melindrar os outros, mas por terem franquezas em suas intenções, e serem sinceros, dificilmente são odiados.

XANGÔ

XANGÔ à um ORIXÁ de fogo, filho de OXALÁ com YEMANJÁ. Diz a lenda que ele foi rei de OYÓ. Rei poderoso e orgulhoso, teve que enfrentar rivalidades e até brigar com seus irmãos para manter-se no poder. Vencido por seus inimigos, refugiu-se na floresta, sempre acompanhado da fiel OYA (IANSÃ), e enforcou-se e ela também. Seu corpo desapareceu debaixo da terra num profundo buraco, do qual saiu uma corrente de férro - a cadela das gerações humanas. E ele se transformou num ORIXÁ, mas ao mesmo tempo passa a ser um EGUM (espírito dos antepassados). Verdadeiro paradigma, no CANDOMBLÉ, os EGUNS não são cultuados junto aos ORIXÁS. 0 EGUM é para os homens um pai e o ORIXÁ à para OXALÁ um filho: XANGÔ é, ao mesmo tempo, um filho de OXALÁ e um antepassado mítico, ligado à realeza, um herói devinizado, fundador da dinastia NAGÔ.Por sua origem real, XANGÔ é o Santo da Justiça, castigando com o raio. Ele à também conquistador; possui a tres esposas: OBA a mais velha e menos amada; OXUM, que era casado com OXOSSI e por quem XANGÔ se apaixona e faz com que ela abandone OXOSSI; e IANSÃ, que vivia com OGUM e que XANGÔ raptou. Esta é a mais nova e a preferida, pois à esposa dedicada e forte guerreira, que precede o marido nas batalhas e, por ser dona do raio, deu o fogo a seu amado XANGÔ c omandando as forças da natureza que se caracterizam pela violância: o trovão, o raio (o fogo sobrenatural do céu), atira pedras do céu. Ele é o dinamismo dos elementos da natureza de cujo encontro nascem estes fenômenos metereológicos. Poder, fogo, movimento, vida e fecundidade - ele recebe da mulher IANSÃ.

Seu animal e o carneiro, cujos ataques são comparáveis à violãncia do raio e tem seus chifres em espiral como o fogo. É um ORIXÁ libertino, turbulento, vermelho e quente e destaca--se pela intensa atividade sexual. XANGÔ tem pavor da morte ë dos EGUNS. E estes são os opostos que tem que unir: mortal e imortal, pai (dos homens) e filho (de OXALÁ), o que fará com a mediação da mulher (IANSÃ), que vem trazer o fogo, a fecundidade, a continuidade das gerações o poder da vida transmitido de pai para filho por intermédio da gestação na mulher.

Sua cor é vermelha e branca e seu dia é quarta-feira. Gosta do sacrifício do cágado, que multas vêzes é chamado seu cavalo, de galo e de pato. Sua possessão uma explosão, de alegria, sua dança é vigorosa e bela e seus filhos saúdam-no com palmas, fogos, gritos e com a expressão "desejamos longa vida a Vossa Magestade" - antes de tudo um Rei. Os objetos sagrados de XANGÔ são o LABÁ e o OXÉ, a dupla machadinha que representa o raio e que pode ser em madeira ou bronze-metal - pela cor avermelhada, é consagrado a elê. 0 LABÁ é um capanga de couro pintada, feita só na Africa, e cujos desenhos são sagrados. Ela à dividida em quatro partes e suas figuras, que lembram o raio, são assimétrias e evocam os três segmentos do raio e do tríângulo. 0 número três é o par mais um, sugerindo movimento e continuação - ou seja, a própria vida.

0 tipo psicológico dos filhos de XANGÔ é fisicamente robusto, o queixo forte e voluntarioso, pescoço curto, boca carnuda e sensual. Violentos, orgulhosos, porém sua agressividade não e gratuita: ela se volta contra os maus, pois como XANGÔ, seus filhos são paladinos da Justiça.

IANSÃ

IANSÃ é a filha de YEMANJÁ com OXALÁ e a esposa preferida de XANGÔ. É guerreira e aventureira como ele, mulher de muitos homens (OXÓSSI,OGUM E XANGÔ. ReIaciona-se com todos os elementos da natureza. A água, sob formal de chuva, de tempestade. 0 ar, sob a forma do vento da tempestade, que arranca árvores, derruba casas. No seu aspecto benéfico, foi o ar de IANSÃ que espalhou as plantas medicinais, anteriormente guardadas por OSSAIN numa cabaça. Ligada a floresta, ela se transforma em um búfalo, cervo ou elefante. Propicia a caça abundante. Mas sua essência é o movimento e o fogo, é o ORIXÁ do raio. Esta relação com o movimento e o fogo faz de IANSÃ uma divindidade do sexo e do amor. Ela é rainha por ser a predileta de XANGÔ. E por ser mãe e rainha dos EGUNS, à o único ORIXÁ que não tem medo dos mortos. Seu número é o nove, produto de 3 X 3 - o par Inicial mais um, indicando continuação - puro movimento. 0 seu dia ë quarta-feira e sua cor e a vermelho. Seus objetos são uma espada de cobre e um "espanta moscas", com o qual mantem os EGUNS afastados.

0 tipo psicológIco das filhas de IANSÃ e turbulento, inquieto, cheio de iniciativa. Faz-se notar, provocante e domina os homens, porém à esposa dedicada. Os homosexuais têm como modelo IANSÃ. São mulheres fecundas, mãe de muitos filhos, mas-que são criados por uma avó, babá, tia. 0 tipo IANSÃ apenas orienta a educação. Não gosta de trabalho doméstico e nem de trabalho executivo. Prefere ser atriz, fazendeira ou qualquer outra profissão, na qual seja necessário um pouco de aventura, garra e impetuosidade.

OBA

OBA é ORIXÁ ligado a água, guerreira e pouco feminina. Suas roupas são vermelhas e brancas, leva um escudo, uma espada, uma coroa de cobre. Usa um pano na cabeça para esconder a orelha cortada. Conta e lenda que OBA, repudiada por XANGÔ. vivia sempre rondando o palácio para voltar. OXUM, com suas artimanhas, diz a OBA que XANGÔ adora orelha e que ela faça uma sopa com sua orelha, o que será um remédio infalível para conquista-lo. Assim OBA fez e quando' XANGÔ- tomou a sopa e sentiu-a esquisita, quiz saber quem a fez e OBA apresenta-se feliz, pensando que havia reconsqultando-o.

XANGÔ fica horrorizado com a mutilação e expulsa-a para sempre.

0 tipo psicológico dos filhos de OBA, constitui o estereotipo da mulher de forte temperamento, terrivelmente possessiva e carente. Ao contrário de IANSÃ, é mulher de um homem só, fiel e sofrida. São combativas, impetuosas e vingativas. OBA e um ORIXÁ que raramente se manifesta e há pouco estudo sobre ela. Talvez porque nos dias de hoje, mesmo na África ou Brasil, não há espaço para essas caracteristicas do feminino, que cada vez mais recupera seu poder de IANSÃ.

OXUM

OXUM à ORIXÁ feminino por excelência - o Eterno Feminino. Filha predileta de OXALÁ e YEMANJÁ. Nos mitos, ela foi casada com OXOSSI, a quem engana, com XANGó, com OGUM, de quem sofria maus tratos e XANGÔ a salva.

Seduz OMULU, que fica perdidamente apaixonado, obtendo dele, assim, que afaste a peste do reino de XANGÔ. Mas OXUM é considerado unanímente como uma das esposas de XANGÔ e rival de IANSÃ e OBA. É um ORIXÁ das águas doces, fontes e regatos, e dona do RIO OXUM e de todas as águas que nascem na terra. Diz uma tradiçao esotérica que OXUM é a própria Mãe Terra, um ser vivo que se auto-regula, sendo os rios suas veias.

OXUM e essencialmente o ORIXÁ das mulheres, preside a menstruação, a gravidez e o parto. Desempenha importante funçãonos ritos de iniciação, que são a gestação e o nascimento. ORIXÁ da maternidade, ama as crianças, protege a vida e tem funções de cura. OXUM à fecundidade e fartura que se manifesta no fruto das águas (peixe) e no fruto da terra (inhame) que estão sempre presentes nos seus cultos. Fecundidade e fertilidade são por extensão, abundância e fartura. OXUM é o ORIXÁ da riqueza - dona do ouro, fruto das entranhas da Terra. É alegre, risonha, cheia de dengues, Inteligente, mulher-menina que brinca de boneca, e mulher-sábia, generosa e compassiva, nunca se enfurecendo. Elegante, cheia de jóias, é a rainha que nada recusa, tudo dá. Tem o título de IYALODÊ entre os povos IORUBÁ: aquela que comanda as mulheres na cidade, arbitra litígios e é responsável pela boa ordem na feira. Também comanda as feiticeiras, o que só aparece como predileçio pelo pássaro - um pombo de olhos vermelhos. Desempenha importante papel no jogo de búzios, pois à ela quem formula as perguntas que EXU responde.

Seu dia à sábado, dia das águas sua cor é o amarelo dourado e o ovo é a ela consagrado por representar a gestação Adora o mel, doce como ela. Quando OXUM dançal traz na mão uma espada e um espelho, revelando-se em sua condição de guerreira da sedução. Ela se banha no rio, penteia seus cabelos, põe suas jóias e pulceiras, tudo isso num movimento lânguido e provocante. ORIXÁ do ouro, da bonança, da riqueza, é essencialmente a Mãe - generosa, pródlga e complacente e por isso, como OXUM EWUJI e saudado no PADÉ, começo de todo ritual do CANDOMBLÉ.

0 tipo psicológico dos filhos de OXUM possuidor de muita beleza física. São bem proporcionados de corpo, geralmente claros e louros. Representa sempre o tipo que atrai e que é, sempre perseguido pelo sexo oposto (nãoquem conquista como IANSÃ. Aprecia o luxo e o conforto, é vaidoso, elegante, sensual e gosta de mudanças, podendo ser infiel. Mas é calmo, tranquilo, emotivo, chora facilmente. É astuto, conseguindo tudo que quer com imaginação e intriga. A pesar de ser complacente e pródigo pode vir a ser Interesseiro, preguiçoso e indeciso. É muito desconfiado e possui dor de grande intuição que muitas vezes é posta à serviço da astúcia.

OXOSSI

OXOSSI é o Rei do Keto, filho de OXALÁ e YEMANJÁ ou, nos mitos, filho de APAOKA (jaqueira). É o ORIXÁ da caça; foi um caçador de elefantes, animal associado à realeza e aos antepassados. Diz um mito que OXOSSI encontrou IANSÃ na floresta, sob a forma de um grande elefante, que se transformou em mulher. Casa com ela, tem muitos filhos que são abandonados e criados por OXUM. OXOSSI vive na floresta, onde moram os espíritos e está relacionado com as árvores e os antepassados. As abelhas pertencem-lhe e representam os espiritos dos antepassados femininos. relacionasse com os animais, cujos gritos imita a perfeição, e caçador valente e ágil, generoso, propicia a caça e protege contra o ataque das feras. um solitário solteirão, depois que foi abandonado por IANSÃ e também porque na qualidade de caçador, tem que se afastar das mulheres, pois são nefastas à caça.

Está estreitamente ligado a OGUM, de quem recebeu suas armas de caçador. OSSAIN apaixonou-se pela beleza de OXOSSI e prendeu-o na floresta. OGUM consegue penetrar na floresta, com suas armas de ferreiro e libertá-lo. Ele esta associado, ao frio, à noite, à lua; suas plantas são refrescantes. Seu dia é quinta-feita.

Veste-se de azul-turqueza ou de azul e vermelho. Leva um elegante chapéu de abas largas enfeitado de penas de avestruz nas cores azul e branco. Leva dois chlfres de touro na cintura, um arco, uma flexa de metal dourado e um IRUKERÉ - chicote de rabo de touro para afastar os antepassados. Sua dança sumula o gesto de atirar flexas para a direita e para a esquerda, o ritmo é "corrido" na qual ele imita o cavaleiro que persegue acoaça, deslisando devagar, às vezes pula e gira sobre si mesmo. É uma das danças mais bonitas do CANDOMBLÉ.

0 tipo psicológico, do filho de OXOSSI é refinado e de notável beleza. É o ORIXÁ dos artistas intelectuais. É dotado de um espírito curioso, observador de grande penetração. São cheios de manias, volúveis em suas reações amorosas, multo susceptíveis e tidos como "complicados". É solitário, misterioso, discreto, introvertido. Não se adapta facilmente à vida urbana eé geralmente um desbravador, um pioneiro. Muitas vezes exerce um fascínio sobre os rapazes e pode ser homosexual. Possui extrema sensibilidade, qualidades artísticas, criatividade e gosto depurado. Sua estrutura psíquica é muito emotiva e romântica.

LOGUM EDÉ

LOGUM EDÉ à filho de OXOSSI e de OXUM. É mulher durante seis meses, vivendo na água, e nos outros seis meses à homem, vivendo no mato, Propicia a caça e a pesca. Veste-se como um AYABÁ, com saia cor-de-rosa, usa uma coroa de metal dourado (não o ADÉ das rainhas), um arco e uma flexa. Usa sempre cores claras. Com seu aspecto masculino usa capacete de metal dourado, capangas, arco e flexa ou espada. Sempre acompanha na dança OXUM e OXOSSI.

0 tipo psicológico dos filhos de LOGUM EDÉ é muito orgulhoso de seu corpo - a atual política de cultivo do corpo poderia ser regida por LOGUM EDÉ. É sedutor, vaidoso, preguiçoso e ciumento. São tipos ambivalentes, podendo ser bem educados, bem humorados, refrescantes como a folha de ODUNDUN e a água, mas também serem sombrios como os antepassados. 0 ORIXÁ LOGUM EDÉ à responsável por tonturas e desmaios o que pode ser confundido com provocações dos EGUNS Seu culto na África está quase que extinto, porém na Bahia mantem-se vivo. Seus filhos não podem usar vermelho.

OSSAIN

OSSAIN, filho de OXALÁ e YEMANJÁ, irmão de OGUM, OXOSSI, XANGÔ. Vive na floresta - é também um ORIXÁ do ar livre, onde encontrou e prendeu OXUM. É inimigo de XANGÔ de quem dizem que tentou roubar OBA e teve que enfrentar a ira de XANGÔ, perdendo neste combate uma perna. Outras lendas contam que ele roubou de XANGÔ o fogo e deu aos homens, sendo este o motivo da inimizade.

OSSAIN é o ORIXÁ das folhas e da medicina. Embora como vimos, graças a IANSÃ todos os ORIXÁS tenham suas folhas, em princípio OSSAIN continua sendo o dono delas. Há folhas para tudo: para cada tipo de doença, de desgraça ou de bem, para conseguir a felicidade, dinheiro, longevidade. As folhas são sempre portadoras de AXÉ e no CANDOMBLÉ sem elas e sem OSSAIN nada se faz - portanto, OSSAIN é o dono do AXÉ!

Sua cor é verde e seu dia segunda-feira. Na sua qualidade de senhor da vegetação, ele está ligado com a terra. É um ORIXÁ ctônico, como OMULU ele manca ou não tem uma perna. Seu metal é o ferro. Está profundamenterelacionado com a cabaça - que representa a matriz cósmica, onde guarda suas folhas e seu poder. Está associado aos pássaros. usa uma coroa com um pássaro em cima. Convém lembrar que o simbolo das feiticeiras é uma cabaça na qual está encerrado um pássaro que simboliza seu poder e executa os trabalhos que elas determinam. OSSAIN representa, pois, o poder mágico da cabaça - gestação. É o ORIXÁ da medicina, aquele que com suas folhas fabrica remédios, encantos, talismãs e cura doentes. 0 conhecimento das folhas é a parte mais secreta do CANDOMBLÉ. OSSAIN usa na cabeça uma coroa de metal prateado ornada com um pássaro, leva na cintura cabacinhas onde guarda seus remédios, e leva numa mão uma grande cabaça prateada e noutra uma ferramenta de sete pontas e um pássaro na ponta central. É o ORIXÁ dos médícos e cientistas.

0 tipo psicológico dos filhos de OSSAIN tem um temperamento secreto e imprevisível, ele se esconde, "põe outro na frente porque não gosta de aparecer". Do ponto de vista morfológico, à delicado e frágil; às vezes quando velhos, torna-se manco ou aleijado. É discreto, calado, nada conta de sua vida e faz questão de preservar sua liberdade. Desligado dos aspectos triviais da vida cotidiana, quando persegue a solução de algum problema científico ou filosófico esquece de alimentar-se. É sensivell, generoso, compassívo, ama os animais sobretudo os pássaros. Seu caráter equilibrado não deixa simpatias ou antipatias interferirem em suas decisões. Seus julgamentos sobre os homens e as coisas não--são fundamentados sobre a noção de bem e de mal, mas sobre a eficlência delas.

Estas notas Introdutórias ao estudo do CANDOMBLÉ - a Religião dos ORIXÁS - começou com saudação a EXU (veiculador do AXÉ entre os homens e os deuses), e tem sua conclusão com nosso encontro com OSSAIN (veiculador do AXÉ entre os homens).

OSSAIN ao roubar o fogo para os homens, abriu-lhes o caminho da consciência e, por ser dono do AXÉ das plantass detém a energia da prática do CANDOMBLÉ - no CANDOMBLÉ, nada se faz sem a energia das plantas - e a energia da cura, através da energia curativa das mesmas. OSSAIN que manco e frágil, que com a força da limitação e da fragilidade mantém uma extraordinária reserva de energia criadora, curativa e de resistência passiva em direção aos objetivos que fixou como meta à o nosso CURADOR FERIDO.

São Paulo, inverno de 1990.

GLOSSÁRIO

Grafamos em maíusculo no texto, o resultante do aportuguesamento das palavras e expressões NAGÔS. Certos estuediosos, como Juana Elbeín dos Santos e Pierre Fatumbi Verger, utilizam as expressões iourubás, sendo que conservamo-las nas citações ao longo do presente Glossario.

ABÁ - princípio que induz, permitindo às coisas terem orientação, direção, objetivo em sentido preciso; um dos três princípios ou forças que compoem o Universo. (Vide: AXÉ e IWÁ.)

ABÊBÊ - Leque de YEMANJÁ, prateado, de forma circular, com uma sereia recortada no centro.

ADÉ - Coroa de rainha, utilizada por OXUMARÉ, LOGUM EDÉ e YEMANJÁ.

AIYÉ - 0 inundo. "0 àíyé compreende o universo físico concreto e a vida de todos os seres naturais que o habitam, particularmente os ará-àiyé, habitantes do mundo, humanidade." (Juana Elbein dos Santos, 1984, p. 53.) (Vide: ORUN.)

APAOKA Jaqueira, de quem OXÓSSI é considerado filho.

APERERÉ 0 suporte da cabeça. (Vide: ORI.)

APAXORÓ Bastão em que se apõia OXALUFÃ, É feito de prata, mede cento e vínte centímetros, tem um pássaro na extremidade superior, com nove discos metálicos, Inseridos horizontalmente, em diferentes alturas, dos quais pendem pequenos objetos, sininhos redondos ou em forma de funil. 0 APAXORÓ pode atravessar os nove espaços do ORUN, sendo por isso muito poderoso e sagrado.

ARÁ-AIYÉ - Ou ARAYÉ: os habitantes do AIYÉ, do mundo. (Vide: AYIÉ).

AXÉ - Força propulsora do Universo, que está contida em todas as coisas ido reino animal, vegetal e mineral, quer sejam da água (doce ou salgada), da floresta, do mato, ou do espaço urgano. "É através do àsér propulsionado por Exu, que se estabelece a relação do àié - a humanidade e tudo que é vida -com o órun -- os espaços sobrenaturais e os habitantes do além. (.:.) Receber àxé significa incorporar os elementos simbólicos que representam os princípios vitais e essenciais de tudo o que existe, numa particular combinação que Individualiza e permite uma significação determinada. Trata-se de Incorporar tudo o que constitui o àiyé e o òrun o mundo e oalém." (Juana Elbeín dos Santos, 1984, p. 37/43.)

AYABÁ - ou IYABÁ. Nome genérico dos ORIXÁS femininos.

BABALORIXÁ - Homem chefe do terreiro ou roça, nos rituais e cerimônias do CANDOMBLÉ, também chamado BABALAÔ ou pai-de-santo. Além dessas funções, incumbe-lhe cuidar da iniciação dos filhos ou filhas-de-santo na religião dos IORUBÁS.

BARA - EXU BARA, EXU Individual. Cada ORIXÁ possui seu EXU, com o qual constitui uma unidade - é o elemento EXU que executa suas funções. Assim, no terreiro, cada ORIXÁ faz-se acompanhar de seu EXU particular (BARA), e seu nome à Invocado, sendo-lhe felto oferendas, antes do próprio ORIXÁ. Por ocasião da iniciação, o filho ou a filha-de-santo recebe e duas vazilhas: uma que representa o ELEDÁ e outra o EXU pessoal, o BARA. Assim como os ORIXÁS, cada pessoa tem seu próprIo EXU, que está ligado tanto a seu destino Individual, como ao seu desenvolvimento.

BENIN - Região africana de onde vieram ao Brasil, nos Séculos XVIII e XIX, como escravos, os NAGÔS-IORUBÁS.

BORI - bo + ori = adorar a cabeça; cerimônía através da qual a pessoa passa a ser consagrada aos ORIXÁS.

CANDOMBLÉ - A relígíão dos ORIXÁS, originária da região dos IORUBÁS (África), tendo a cidade de São Salvador na Bahia de Todos os Santos, também chamada Roma Negra, o centro à partir do qual se difundiu pelo Brasil. As práticas religiosas' do CANDOMBLÉ dão-se no terreiro ou roça, que se subdivide em um espaço sagrado, privado, o "mato", que cobre cerca de dois terços do terreiro, e o espaço profano, público, havendo intercâmbio entre, esses dois espaços. No terreiro, há diversos templos (ILÉ-ORIXÁ), onde são cultuados os diferentes ORIXÁS, reunindo os grupos de fiéis, praticantes e iniciados. Em cada templo, há o "assento" do ORIXÁ e os elementos que compõem e expressam seus diferentes aspectos. 0 conjunto de atividades do terreiro está sujeito à coordenação da YALORIXÁ ou BABALORIXÁ. 0 Terreiro aglutina, portanto, o culto de todos os ORIXÁS, sendo essa característica religiosa própria do Brasil; na África, os ORIXÁS são cultuados Individualmente, em cada região ou cidade.

CAURI - Búzio africano, utilizado com fins divinatórios no CANDOMBLÉ. Diversos ORIXÁS utilizam os CAURIS em seus ornamentos e seus símbolos: está no SASSARÁ de OBALUAIÊ, seu patrono, no IRUKERÉ de OXÓSSI,nos ornamentos de NANÃ. Os CAURIS pertencem ao branco, sendo pedaços do branco, interação de dois poderes genitores; símbolos por excelência dos dobles espirituais e dos ancestrais.

EBORA - IRUNMALÉ detentor dos poderes femininos, encabeçados por ODUDWUA. A água e a terra veiculam o AXÉ genítor femínino no - água dos mares, rios, lagos, mananciais, água "sangue branco" da terra - nesse sentido, o branco continua sígniflcando o poder genitor feminimo e ODUDWUA sendo considerado entidade FUNFUN no Brasil, o termo EBORA caiu quase em desuso, sendo todas as entidades chamadas genericamente de ORIXAS, distinguindo aquelas que são da direi" e aquelas que são da esquerda.

ÊDUN ARÁ - Pedra que se encontra profundamente enterrada no local atingido pelo raio lançado por XANGÔ. ÊDUN ARA significa "Pedra do raio". (Vide XANGÔ.)

EFUN - Giz utilizado para marcar certas partes do corpo, nos rituais iorubás. (Vide: OXALÁ.)

EGUN - Espíritos dos seres humanos (IRUNMALÉ-ASCESTRES), relacionados portanto à história dos homens, objetos de culto diferentes daquele dos ORIXÁS: qualquer que seja o prestígio de um EGUN, jamais será cultuado em conjunto com um ORIXÁ. 0 ORIXÁ e o EGUN pertencem a categorias distintas, cujas. fronteiras são bastante sutis: enquanto os ORIXÁS representam valor e força universal, o EGUN tem valor a um grupo famillIar ou linhagem. Também há os EGUNS de direita, os ancestrais masculinos, e os de esquerda - ancestrais femininos.

ELEDÃ - ORIXÁ que preside a cabeça do ser humano Individualizado. (Vide: ORI, IPORI, ODU, IFÁ.)

EXU - Pré-existente à ordem do mundo, é relacionado com os ancestrais femininos e masculinos e suas representações coletivas, transformando-se sem parar, de maneira não uniforme, caótica - elemento dinâmico por excelência de todos -os seres sobrenaturais e de tudo que existe, justamente por isso muito difícil de ser classificado. Como primeiro ORIXÁ criado, representa também o princípio da existência diferenciada, em consequâncía de sua função de elemento dinâmico que o leva a propulsionar, mobilizar, crescer, transformar e comunicar. EXU representa tanto a direita como a esquerda, veiculando o AXÉ entre os homens, os homens e os deuses - nisso equiparando-se a Mercúrio.

EXU ELEGBARA - EXU senhor do poder de transformação. Os mitos narram que nas remotas origens, EXU foi despedaçado e espalhou-se, percorrendo as nove regiões do ORUN, recriando-se sempre, sendo que em cada uma delas transformou-se em duzentos EXU YANGHI. EXU ELEGBARA é, ainda, companheiro inseparável de OGUN, com ele se confundindo. Nos rituais dos terreiros de CANDOMBLÉ, EXU é presentado por meio de OGUN.

EXU YANGHI Rei de todos os descendentes, Pai ancestral, ao mesmo tempo o primeiro nascido - a terceira pessoa, o terceiro elemento, em conjunto com OLORUN e OXALÁ. Resultante do despedaçamento de EXU ELEGBARA, cujos pedaços foram espalhados pelas nove regiões do ORUN. MANGUE é também pedra porosa, laterIta, local consagrado a EXU entre os iorubás, que também pode ser representado por montículo de terra grosseiramente modelado na forma humana, com olhos, nariz e boca assinalados com búzios.

IANSÃ - Também chamada OYA, divindidade dos ventos, da tempestade, filha de YEMANJÁ com OXALÁ e esposa preferida de XANGÔ. É o ORIXÁ do relâmpago e do raio; é o aspecto feminino de XANGÔ, o seu AXÉ - o sangue vermelho, o da realização. IANSÃ está relacionada também com a floresta e a terra, e inteira vermelha.

IBIRI - Atado de nervuras de palmeiras, ornamentado por tiras de couro, búzios e contas azul-escuras e brancas, utilizado por NANÃ.

IFÁ - Divindade da adivinhação, transmitiu aos homens as artes divinatórias, também chamado ORUNMILÁ. Os BABALAÔS são os porta-vozes de IFÁ, sendo que necessitam aprender quantidade enorme de lendas e histórías antigas, classificadas em duzentos e cincoenta e seis ODUS ou signos de IFÁ, cujo conjunto forma espécie de enciclopédia oral dos conhecimentos tradicionais do povo iorubá. Cada indivíduo nasce ligado a um ODU, que dá a conhecer sua identidade profunda, servindolhe de guia por toda vida, revelando-lhe o ORIXÁ particular, ao qual deverá ser eventualmente dedicado. IFÁ é sempre consultado em caso de dúvida, antes de decisões importantes, nos momentos difíceis da vida. (Vide: ODU.)

IFÉ - Cidade situada na África, tida pelos iorubás, como berço da civilização e do resto do mundo, onde OGUN foi Rei.

IJEXÁ - Região da Nigéria (África), cortada pelo RIO OXUM.

ILÉ-ORIXÁ - Nos terreiros de CANDOMBLÉ, templos consagrados aos diferentes ORIXÁS.

IMOLÉ - Divindade ao mesmo tempo ORIXÁ e EBORÁ.

IORUBÁ Grupo línguístico, de vários milhões de indivíduos, ligados ainda pela mesma cultura, tradições e origens na régião do antigo Daomé (África), cujo centro é a cidade de IFÉ. Relacionando-se diretamente a um Povo, nação ou território, não diz respeito a entidade política constituída. De Daomé foram transportados, à partir do Golfo de Benin, à Bahía de Todos os Santos (Brasil), entre Os Séculos XVIII e XIX - sendo o último grupo étnico africano a desembarcar no Brasil como escraco. (VIde NAGÓ.)

IPORI - Origem divina dos seres humanos individualizados. (Vide: ORI, ODU, ELEDÁ, IFÁ.)

IRUKERÉ - Chicote feito com os pelos do rabo do touro preso a um pedaço de couro duro, que serve também como cetro, revestido por couro fino e ornado com contas e CAURIS, usado por OXOSSI, tem o poder de controlar e manejar todos os espiritos da floresta, representando ainda os ancestrais, os espíritos dos animais e todo tipo de espírito da floresta. Na África, nenhum caçador ousa aventurar-se na floresta sem o seu IRUKERÉ.

IRUNMALÉ - Entidades . divinas, - cuja- existência remonta aos primórdíos do Universo, cujo AXÉ e domínios de ação foram transmitidos diretamente por OLORUM. Há também os IRUNMALÉ-ASCESTRES, espíritos de seres humanos; ambos são objeto de cultos separados. São agrupados, pertencentes à direita (detentores dos poderes masculinos) e à esquerda (detentores dos poderes femininos), sendo quatrocentos da direita e duzentos da esquerda. Os quatrocentos da direita são os ORIXÁS encabeçados por OXALÁ, e os duzentos da esquerda são os EBORÁS encabeçados por ODUDWUA, sendo que EXU transita livremente entre a direita e a esquerda.

IRUNMALÉ-ASCESTRES - Espíritos dos seres humanos. (Víde: EGUM.)

IYALODÊ - Título atribuído a OXUM, significando: aquela que comanda as mulheres, arbitra litígios, é responsável pela boa ordem na feira.

IYALORIXÁ - Mulher chefe do terreiro ou roça nos rituais e cerimõnias do CANDOMBLÉ. (Vide: BABALORIXÁ.)

IWÁ - Princípio da existência. um dos três princípios ou forças que compoem o Universo e tudo o que existe. (VIde: AXÉ e ABÁ.)

KETO - Região iorubá (África), onde OXÓSSI foi Rei. Esse país foi "completamente destruído e saqueado pelas tropas do rei do Daomé, no século passado, e seus habitantes, inclusive os iniciados de 0xóssi, foram vendidos como escravos para o Brasil e Cuba. Esses africanos trouxeram consigo o conhecimento ritual de clebração desse culto. Chegou-se a tal ponto que, embora existindo ainda em Kêto os locais onde 0xóssi recebia outrora oferendas, e sacrifícios, já não existem atualmente pessoas que saibam ou desejam cultuá-lo." (Pierre Fatumbi Verger, 1986, p.113.)

LABÁ Objeto sagrado de XANGÔ: capanga de couro pintada, feita na África, com desenhos sagrados, dividida em quatro partes.

LAROYE - Nome pelo qual EXU é chamado, quando se manifesta.

LOGUN EDÉ - ORIXÁ filho de OXÓSSI e OXUM, mulher durante seis meses, vivendo na água, homem nos outros seis meses, vívendo no mato. Propicia caça. Apresenta-se com as ferramentas cerimoniais de OXUM e OXOSSI, acompanhando suas danças.

NAGÔ - Designação genérica dos IORUBÁS no Brasil. (Vide: I0RUBÁ.)

NANÃ - ORIXÁ também chamada NANÃ BURUKI, NANÃ BUKUU e

NANÃ BRUKUNG, dos primórdios da criação, associada a água, à lama e à morte. Seu aspecto de "conter e processar' as coisas em seu interior, esse segredo ou mistério que se opera em suas entranhas escuras, expressa-se pela cor azul--escura que a representa. As cores que a representam são uma combinação de partes iguais de branco e de azul escuro e e assim que, no colar que distingue suas sacerdotízas, as contas azuis alternam com as contas brancas." (Juana Elbeín dos Santos, 1984, p. 81182.) NANÃ é macho e fêmea, colocada na mesma hierarquia que OXALÁ, considerada sua mulher.

NANÃ, palavra cujo significado à "mie", tem como seus filhos os mortos e os ancestrais. Quando se manifesta "em suas sacerdotízas, dança com movimentos lentos e dignos. ( ... ) Para engendrar, ela precisa ser constantemente ressarcida. Ela récebe, em seu selo, os mortos que tornarão possívels os rénascimentos." (Juana Elbein dos Santos, 1984, p.81.) NANÃ carrega na mão esquerda o IBIRI.

OBÁ - ORIXÁ feminino, terceira mulher de XANGÔ tendo sido ainda, segundo alguns mitos, mulher de OGUM, assim como OXUM também o foi. OBÁ à ligada à água, guerreira pouco feminina. A dança de OBA e também guerreira: ela brande um sabre com uma das mãos e leva um escudo na outra.

OBALUAÊ - Rei Dono da Terra, um dos nomes de OMULU. "Oàlú - aiyé, Oba + olu + aiyé, Rei de todos os espíritos do mundo, detém e lidera o poder dos espíritos e dos ancestrais que o seguem e ele oculta sob a ráfia o mistério da morte e do renascimento, o mistério da gênese.'' (Juana Elbein dos Santos, 1984, p. 99.)

ODU - Destino Individual da pessoa, desligada de sua origem divina; identidade profunda da pessoa, servindo-lhe de gula por toda vida. (Vide: ORI, IPORI, ELEDÁ, IFÁ.)

ODUDUWA É mais uma figura histórica do que um ORIXÁ. Guerreiro temível, foi fundador da cidade de IFÉ e pai de diversos reis de diversas nações iorubás, tornando-se objeto de culto após sua morte - portanto, no âmbito de culto dos ancestrais. É grande sua importância, no entanto. Recebeu de OLORUN o elemento terra, com o qual fez o AIYÉ. (Vide: OXALÁ.) ODUDUWA encabeça os duzentos IRUNMALÉ da esquerda que à reúne todas as entidades sobrenaturais detentoras dos poderés femininos -identificados com a terra. As pessoas que cultuam ODUDUWA não entram em transe.

OFO - Palavras, cuja força desperta os poderes das plantas no culto de OSSAIN.

ODUNDUN - Espécie de vegetal da África.

OGAN - Nas cerimônias rituais do CANDOMBLÉ, nome dado aos tocadores de atabaque que entoam, ainda, cantos, possibilitandoa vinda dos ORIXÁS.

OGUM - Filho de YEMANJÁ, afeiçoado a EXU e OXOSSI, foi casado com IANSÃ, que o abandonou por XANGÔ, e também com OXUM e OBÁ, mas prefere viver só. É o ORIXÁ do ferro, da civilização, da técnica e também da virilidade. Emalguns mitos é considerado filho de ODUDUWUA, tornando-se Rei de IFÉ quando ODUDUWUA tornou-se temporariamente cego. Seu pai é OXALÁ, éstando OGUM profundamente relacionado aos mistérios das arvores. As origens de OGUM datam de tempos proto-históricos, e sua função é daquele que toma a vanguarda, que vai na frente Destemidocaçador, conhecendo a floresta, Inventa armas e ferramentas - primeiro de pedra, depois de ferro. Está associado à remota época em que o caçador foi a vanguarda da clvilização. Sua progenitura converte em irmão quase girmãoemeo de EXU, com quem frequentemente se confunde.

OKOTÓ - Caracol, símbolo de EXU, representa a espiral da evolução, relacionando-se também com o significado dinâmico do triângulo e do cone -enquanto expansão e crescimento - na medida em que se reduzem a três, enquanto unidade dinâmica fundamental do CANDOMBLÉ. 0 OKOTO "é uma espécie de.caracol e aparece nos motivos das esculturas e como emblema entre os que fazem parte do culto de Èsù. Ele consiste em uma concha cuja base é aberta, utilizada como um pião. 0 Okòtó representa a história ossificada do desenvolvimento do caracol e reflete a regra a qual se deu o processo de crescimento (... ) um crescimento constante e proporcional, uma continuidade evolutIva de ritmo regular. 0 Òkòtó simboliza um processo de crescimento. 0 Okótó é o piãoque apoiado na ponta do cone - um sópé, um único ponto de apoio - rola 'espiraladamente' abríndo-se a cada revolução, mais e mais, até converter-se numa circunferência infinita (cume oco)." (Juana Elbeín dos Santos, 1984,

p. 133.)

OLORUM - "Olorum, entidade suprema, o + ni + òrun, aquele" que é ou possui Òrun, não à apenas um deus ligado ao céu como o pretendem certos autores, mas aquele que ou possui todo o espaço abstrato paralelo ao àjyé, senhor de todos os seres espirituais, das entidades divinas, dos ancestrais de qualquer categoria e dos dobles; espirituais de tudo que vive." (Juna Elbein dos Santos, 1984, p.

OLOOKUN - ORIXÁ. masculino em BENIN e feminino em IFÉ, sempre do mar, pai de YEMANJÁ.

OMULU - Também chamado OBALUAÊ (Rei dono da Terra) e XAPANÃ, OMULU (Filho do Senhor) é o ORIXÁ da varíola e doenças contagiosas, cujo nome é perigoso de ser mencionado: ele à aquele que pune os malfeitores e Insolentes, enviando-lhes a varíola. EBORÁ filho de NANÃ, OMULU está relacionado com a terra, troncos e ramos, das árvores, transporta AXÉ preto, vermelho e branco - cores que o representam; porém, "sua materia de origem e a terra e como tal ele e o resultado de um processo interior; seu significado profundo está associado com o preto, com o segredo contido no interior do ''ventre fecundado' e com os espíritos contidos na terra que são seus irmãos e dos que ele à símbolo". (Juana Elbein dos Santos, 1984, p. 97.) Os albinos e os marcados pela varíola são considerados filhos de OMULU. Quando semanifesta, as sacerdotízas de OMULU devem ser recobertas por uma vestimenta sagrada feita de "palha da Costa" (África), ráfia africana, que consiste numa seleta e espécie de chapéu trançado em forma de cone sobre a cabeça, "cujas fibras superiores formam uma pequena vassoura. Em sua extremidade Inferior, as fibras de rãfia são deixadas livres e desfiadas a fim de formar uma cortina densa que cobre inteiramente o rosto da sacerdotiza possuída e desce até o meio do peito. A saieta feita com a mesma ráfia desfiada completa a vestimenta". (Juana Elbein dos Santos, 1984, p. 98.) OMULU traz nas mãos o SASSARÁ, espáciede vassoura sagrada, com o qual limpa, varre as doenças, as impurezas e os males espirituais.

ORI - Cabeça em língua iourubá. O corpo e constituído por duas partes inseparáveis: a cabeça (ORI) e o seu suporte (APERETÉ), sendo que para adquirir existência, o corpo deve receber e conter EMI, princípio da exitãncia genérica, elemento original soprado por OLORUM. "Cada elemento constitutivodo ser humano é derivado de uma entidade de origem que lhe transmite suas propriedades materiais e seu significado simbólico. Essas entidades de origem ou progenitores, existencia genérica ou 'matéria massa" ancestrais divinos ou familiares, são símbolos coletivos míticos dos quais partes individualizadas se despreendem para constituir os elementos dos Indivíduos. Esses elementos possuem dupla existãncia: enquanto uma parte reside no òrum, o espaço infinito do mundo sobrenatural, a outra parte reside no individuo, em regiões particulares de seu corpo, ou em estreito contato com ele. 0 doble do indivíduo que reside no òrum, pode ser invocado ou representado. ( ... ) Ori-apereré, a cabeça e o seu suporte, são modelados com porções de substâncias-massas progenitoras, mas o interior, o ori-inu, é único e representa uma combinação de elementos intimamente ligados ao destino pessoal. É esse conteúod, o ori-inu, que expressa a existência individualizada." (Juana Elbein dos Saantos, 1984, p. 204.) (Vide: ODU, IPORI, ELEDÁ, IFÁ.)

ORI-INU - 0 interior do ser individualizado, intimamente ligado ao destino pessoal. (Vide: ODU, ILEDÁ, ORI, IPORI, IFÁ.)

ORIXÁS - Deuses IORUBÁS na África e no Novo Mundo; ancestrais míticos encantados e metamorfoseados nas forças da natureza. 0 número e a importância dos ORIXÁS nos cultos, variam na África e no Novo Mundo, de acordo com diferentes tradições locais, regionais e culturais, de tal forma que ainda hoje não há homogeneidade absoluta na religião dos ORIXAS, que na África aparece fragmentada e, no Brasil, de forma mais homogênea. Em certas regiões da África, alguns ORIXÁS são cultuados, outros não. No Brasil, todos os ORIXÁS são cultuados no terreiro ou roça, onde cada umtem seu templo (ILÉ-ORIXÁ). 0 número e os domínios dos ORIXÁs roi fixado nos primórdios dos tempos por OLORUM, sendo que à rigor seriam em número de quatrocentos de direita, detentores dos poderes masculinos, encabeçados por OXALÁ. Os de esquerda, detentores dos poderes femininos, em número de duzentos, encabeçados por ODUDUWA, são chamados EBORÁS --embora no Brasil, o nome ORtXÁ aplique-se a ambos os grupos. Há em verdade linhagem de ORIXÁS; assim, na lnhagem de OXALÁ temos OXAGUIÃ e OXALUFÃ, por exemplo. Entre os ORIXÁS, há aqueles que tem origem apenas divina, como OXALÁ e EXU, e outros que têm origem divina e histórica. Narra o seguinte Pierre Fatumbí Verger (1985, p. 9):

Um babalalaô me contou:

Antigamente, os orixás. eram homens.

Homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes

Homens que se tornaram orixás por causa de sua sabedoria.

Eles eram respeitados por causa da sua força.

Eles eram venerados por suas virtudes.

Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.

Foi assim que estes homens se tornaram orixás.

Os homens eram numerosos sobre a terra.

Antigamente, como hoje,

muitos deles não eram valentes nem sábios.

A memória destes não se perpetrou.

Eles foram completamente esquecidos. Não se. tornarão oríxás. Em cada vila um culto se estabeleceu sobre a lembrança de um ancestral de prestígio e lendas foram transmitidas de geração em geraçao

para render-lhes homenagens.

ORIXÁ FUNFUN - ORIXÁ do branco, encabeçado por OXALÁ, porque utilizam o EFUN (giz branco) para enfeitar o corpo. Todos os ORIXÁS da linhagem de OXALÁ são chamados ORIXÁS FUNFUN. No CANDOMBLÉ prevalecem as cores vermelha, branca e preta - relaclonadas com o sangue vermelho, branco e preto que, por sua vez relaciona-se com a própria veiculação do AXÉ através dos reinos animal, vegetal e mineral. Um dos traços fundamentais dos ORIXÁS FUNFUN é sua relação com as árvores. Uma das passagens do mito da criação diz que, para cada ser humano criado, OXALÁ criava simultaneamente uma árvore no ORUN. Assim, como todas as pessoas tem um duplo, também têm uma árvore, ambos no ORUN.

ORIXALÁ - Víde OXALÁ.

ORUN - 0 Espaço sobrenatural, o outro mundo - espaço ilimitado, infinito,habitado pelos ARÁ-ORUN (habitantes do ORUN, seres ou entidades sobrenaturais). "Alguns babaláwo, sacerdotes versados-nu mistérios oraculares, descrevem o órun como composto de nove espaços. Ifátoogun, de Osogbo, descreve os nove espaços do órun dando nomes partIculares a cada um deles e os situados de maneira superposta, o do meio, coíncidíndo com o espaço da terra, quatro acima e quatro abaixo. Os nove compartimentos, formando um todo, estão unidos pelo òpó-Orun àiyé pilar que liga o órun ao àlyá." (Juana Elbein dos Santos, 1984, p. 57.)

Os NAGÓ, ao fazer suas oferendas, apresentam-nas aos quatro pontos do espaço que equivalem ao Universo: o nascente, tudo aquilo que está em vias de desenvolvimento, o que está na frente, o futuro, sendo a cabeça (ORI) equiparada ao nascente; poente, aquilo que estava na frente e cumpriu seu ciclo, está atrás, o que está morto, o passado, sendo o ESÉ (pés) que nos conduz, em contato com a terra, equiparado ao poente. Mas também à do poente, dos ancestrais, que renasce a vida, o nascente, e assim sucessivamente. 0 lado direito ciomundo e o lado esquerdo também são saudados, e também se inter-relacionam. Assim, o indivíduo é constituído de elementos da direita (herdados de seu pai e ancestrais masculinos) e da esquerda (herdados de sua mão e ancestrais femininos).

Os mitos revelam que, em tempos remotos, o AIYÉ e o ORUN não eram separados; a existência não - se desdobrava em dois niveis, e os seres dos dois espaços Iam de um a outro sem problemas. Foi após a violação de uma interdição que OXALÁ, lançou o APAXORÓ que, atravessando todos os espaços do ORUN, cravou-se no AIYÉ, separando-o do ORUN, retornando em seguida ás mãos de OXALÁ.

OSSAIN - Filho de OXALÁ e YEMANJÁ, Irmão de OGUM, OXÓSSI e XANGÔ. é o ORIXÁ da vegetação, das folhas e dos preparados, não podendo no CANDOMBLÉ nenhuma cerimônia ser feita sem sua presença. 0 culto e os ritos de OSSAIN, no entanto, não são, públicos. "0 nome das plantas, a sua utilização e as palavras (ofó), cuja força desperta seus poderes, são os elementos mais secretos do ritual no culto aos deuses lorubás." (Pierre Fatumbi Verger, 1986, p.122.)

OXAGUIÃ - Uma das formas que assume OXALÁ ao incorporar-se; jovem guerreiro, nascido em IFÉ, sendo filho de OXALUFÃ.

OXALÁ, - também chamado ORIXALA e OBATALÁ, o "Grande Orixá" ou o "Rei do Pano Branco", sendo considerado de modo incontestes o mais importante ORIXÁ, o mais elevado dos deuses IQRUBÁS. Sendo o primeiroa ser criado por OLORUM, foi encarregado de criar o mundo, com o poder de sugerir (ABÁ) e o de realizar (AXÉ), sendo-lhe entregue o "saco da criação" e prescrito certas regras. Acontece que OXALÁ caiu bêbado pelas artimanhas de EXU, deixando abandonado o "saco da criação" ao seu lado. ODUDUWÁ vendo, pegou-o, levou-o a OLORUM, que ficou aborrecido, e encarregou ODUDUWÁ de criar a terra. Desconsolado, OXALÁ procurou OLORUM, que lhe deu como tarefa modelar no barro o corpo de todos os seres humanos, nos quais OLORUM insuflaria a vida. Alguns mitos narram que, para cada ser humano criado, OXALÁ criava simultaneamente uma árvore -além do duplo espiritual - no ORUN. Sucedeu, porém, uma guerra entre OXALÁ e ODUDUWÁ, para decidir quem deveria reinar, pois se ODUDWÁ havia criado a terra sobre as águas, OXALÁ havia criado da terra os seres humanos. IFÁ usou de toda sua sabedoria para que ficassem em paz, pois a guerra poria em risco toda criação. Mostrou a OXALÁ e ODUDWUÁ que a terra e todas as criaturas Inter-relacionavam-se, sendo portanto fundamentais os trabalhos dos dois ORIXÁS para toda criação. E então fez sentar ODUDUWÁ à sua esquerda e OBATALÁ à sua direita, colocando-se no centro, fazendo os sacrifícios para celar o acordo: esses sacrifícios são, anualmente, celebrados pelos NAGÔS, revivendo e reatulIzando a relação harmoniosa entre o poder feminino e o poder masculino, entre AIYÉ e o ORUN, para permitir a sobrevivãneia do Universo e continuidade da existência nos dois níveis. Assim, ORUN e AIYÉ, OXALÁ e ODUDUWÁ, o poder masculino e o poder feminino, as duas metades enfim devem permanecer unidas complementarmente. OXALÁ encabeça os quatrocentos ORIXÁS da direita, detentores dos poderes masculinos. A família de ORIXÁS ligados a OXALÁ à chamada de ORIXÁS FUNFUN, ORIXÁS do branco, porutilizarem o EFUN (giz branco) para enfeitar o corpo. São-lhes feitas oferendas de alimentos brancos, devendo as pessoas que lhes e são consagradas, vestirem-se de branco, usar colares da mesma cor e pulseiras de estanho, chumbo ou marfim. OXALUFÃ - Uma das formas que assume OXALÁ ao incorporar-se, velho apoiado num bastão de prata chamado APAXARÓ. OXALUFÃ foi Rei de ILU-AYÊ, terra dos ancestrais na África.

OXÉ - Símbolo de XANGÔ. Machadinha dupla ou de duas lâminas, de madeira ou metal, que representa o raio e, ainda, vida e reprodução. É o anti-símbolo da morte, pois XANGÔ só gosta de tudo que é quente, vivo. 0 OXÉ lembra o símbolo de Zeus, em Creta.

OXETUÁ - Representante direto de EXU, simboliza um de seus aspectos mais Importantes - o de ser encarregado de transportar as oferendas (EBÓ), dado o significado fundamental que as oferendas têm no CANDOMBLÉ. Nasceu do ventre e do AXÉ de OXUM e do AXÉ de dezesseis IRUNMALÉ,estabelecendo a relação harmoniosa entre o poder masculino e o poder feminino, restabelecido pela fertilização, pelo nascimento, pelo descendente. (Cf. Juana Elbein dos Santos, 1984, p.161.)

OXOSSI - ORIXÁ caçador por excelência, que compartilha muitas características de OGUM, sendo considerado seu irmão caçula ou seu filho, estando ligado à terra virgem e também às árvores, como OGUM. É filho de OXALÁ e YEMANJÁ. OX6SSI à considerado fundador dos primeiros terreiros no Brasil, daí sua grande importância no CANDOMBLÉ brasileiro, embora seu culto esteja quase extinto na África. 0 símbolo de OXÓSSI é um arco e uma flexa de ferro, e entre seus paramentos, figuram chifres de touro - cuja forma é o cone, relacionando-se com abundância e o elemento procriado no AIYÉ e no ORUN: isso torna o som do chifre de força inigualável, poderoso meio de comunicação entre o AIYÉ e o ORUN. Outro emblema importante de OXÓSSI à o IRUKERÉ.

OXUM - ORIXÁ feminina, genitora por exelência, ligada particularmente a procriação e associada a descendência no AYIÉ e Rainha de todos os rios, exerce seu poder sobre a água doce, sem a qual a vida não seria possível na terra.

OXUMARÉ - conforme Juana Elbein dos Santos (1984, p. 99) assim como OMULU, OXUMARÉ está relacionado com o transcurso, e com o destino, sendo OXUMARÉ considerado grande BABALAÔ Segundo um mito, é devido a suas performances como BABADAS, no início da criação, em relação ao OLOOKUN e o próprio OLORUN, que ele foi retido no ORUN. A seu pedido, é-lhe permitido voltar ao AIYÉ de três em três anos; estende então seu AXÉ sobre o mundo, nas primeiras horas da manhã, quando o sol se levante, e o AXÉ espande-se pelo mundo todo e à ativo, poderoso. Duás serpentes de ferro (signo do preto), representam-no.

OXUM EWUJI - Nome pelo qual OXUM à chamado no PADÉ, inicio de todo ritual no CANDOMBLÉ.

OYÁ - Vide IANSÃ.

OYÓ Cidade africana, situada no antigo Daomé, onde XANGÔ foi Rei.

PADÉ - cerimônia solene e privada, que só é assistida por pessoas do terreiro, resumindo e dramatizando a concepção simbólica do sistema religioso NAGÔ e o significado, a estrutura e as relações simbólicas de EXU. (Cf. Juana Elbeín dos Santos,1984, p. 130 e 185.)

RI0 OXUM - Rio que atravessa toda a região de IJEXÁ (Nigária, África), onde estio os principais templos de culto de OXUM, sendo este ORIXÁ tido como dono do Rio.

SASSARÁ - Cetro de palha da Costa ou feixe de nervura de palmeíra, simbolizando a imagem coletiva dos espíritos ancestrais, com o qual OMULO expulsa a peste e o mal.

XAPANÃ Um dos nomes de OMULU.

XANGÔ Conforme Pierre Fatumbi Verger (1986, p. 134), XANGÔ, como todo IMOLÉ, pode ser descrito sob dois aspectos: o histórico e o divino. Em seu aspecto histórico, foi Rei de OYÓ e, em seu aspectos divino, é filho de OXALÁ com YEMANJÁ, tendo três ORIXÁS como esposas: IANSÃ, OXUM e OBÁ. XANGÔ é o 0RIXÁ do fogo e comanda o trovão. "Xangô é víril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Por esse motivo, a morte pelo raio infamante. Da mesma forma, uma casa atingida por um raio uma casa marcada pela cólera de Xangô. 0 proprietário deve pagar pesadas multas aos sacerdotes do orixá que vem procurar nos escombros os edun àrá (pedras do raio) lançados por Xangó e profundamente enterrados no local onde o solo foi atíngido." (Pierre Fatumbi Verger, 1986, p. 135.) Os símbolos, objetos e emblemas consagrados a XANGÔ são em madeira e cobre.

YEMANJÁ - ORIXÁ feminino, associada a água, particularmente do mar, sendo amplamente cultuada pelos pescadores e pelo povo em geral. Seu nome significa "Mãe cujos Filhos são Peixes". Compartilha quase todas as características de OXUN. YEMANJÁ é filha de OLOOKUN, ORIXÁ masculino em BENIN ou feminno em IFÉ, sempre do mar, é representada por uma sereia de longos cabelos pretos, no Brasil forma latinizada de representá-la.

BIBLIOGRAFIA

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CLAUDE LEPINI - Os Tipos Psicológicos no Candomblé, Tese de Doutorado, USP

JUANA ELBEIN DOS SANTOS - Os Nagô e a Morte, Ed. Vozes, 1984

MONIQUE ANGRAS - 0 Duplo e a Metamorfose- A Identidade Mítica em Comunidades Nago, Ed. Vozes, 1984

PIERRE FATUMBI VERGER - Lendas Africanas dos Orixás, Ed. Corrupio, 1985

PIERRE FATUMBI VERGER - Orixás, Ed. Corruplo/Circulo do Livro, 1986

PIERRE FATUMBI VERGER - Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos (Báculo XVII a XIX), Ed. Corrupio, 1987

REGINALDO PRANDI e VAGNER GONÇALVES - Deuses Tribais em São Paulo, Ciência Hoje, vol. 10 P. 57

ROGER BASTIDE - O Candomblé da Bahia, Cia. Ed. Nacional, 1978

ROGER BASTIDE - As Religiões Africanas no Brasil, L1v. Pioneira Editora, 1985

ZORA SELJAY - Três Mulheres de Xangõ, IBASA/MEC, 1958

CARMINHA LEVY Mini Curriculum

Pedagoga, psicóloga clínica com especialização em Jung ( PUCSP), arte terapeuta transpessoal ( Stanislav Grof -Esalen CA), psicodramatista, Xamã.

Iniciada no Xamanismo em 1981 por Michael Harner ( Esalen), funda posteriormente a sua própria escola de xamanismo, a Paz Géia - Instituto de Pesquisa Xamânica, cuja estrutura pedagógica é a integração entre psicologia, antropologia e a sagrada sabedoria do Xamã.

Pertence a The Foundation of Shamanic Studies e a Sociedade Friends of Esalen USA.

É membro didata da Universidade da Paz ( UNIPAZ ), em Brasilia, onde ministra as Jornadas Xamânicas na Formação Holistica de Base.

Dedica-se a difusão do Xamanismo desde 1981, através de participação em Congressos Nacionais e Internacionais, palestras, Workshops e Jornadas Xamânicas em todo Brasil e no Exterior ( Flórida, Oregon, Bahamas).

Pubílicacões:

Levy, C. - Terapia Xamânica, Anais do Congresso de Terapias Afternativas São Paulo

Levy, C. - Paz na Terra e os Novos Xamãs, Anais do Congresso Holístico Internacional, Belo Horizonte - MG.

Levy, C. - Xamanismo Matriarcal, 111 Congresso Holístico Internacional, Salvador - BA.

Levy, C. e Machado - A Sabedoria dos Animais, Ed. ópera Prima, São Paulo SP.